Amazônia

Omissão do poder público foi decisiva para a tragédia no Jorge Teixeira

Serviço Geológico do Brasil explicaram ao Vocativo que a área onde ocorreu o deslizamento que matou oito pessoas no Jorge Teixeira era desconhecida da prefeitura e a população não estava preparada pra enfrentar o problema

Fortes chuvas em Manaus no último domingo (12/03/2023) resultaram em um deslizamento de barranco que soterrou 11 pessoas, levando oito a óbito na rua Pinto D’Água, bairro Jorge Teixeira, zona Leste da capital amazonense. Técnicos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), o Serviço Geológico do Brasil, começaram a entender as causas da tragédia e constaram que ela poderia ser evitada com algumas medidas simples do poder público.

Segundo esses técnicos ouvidos pelo Vocativo, as causas do deslizamento foram várias, a começar pela mais óbvia: a tempestade. Foram 97,2 milímetros de chuva no domingo, número que colocou a cidade em estágio de atenção, resultando em 110 registros pela Central 199 da Defesa Civil. Além disso, a invasão da área a partir de 2020, que causou o desmatamento da floresta favorecendo a fragilização do terreno, somado ao acúmulo de lixo no alto da encosta foram determinantes para o deslizamento.

Mas o fator preponderante foi a falta de fiscalização do poder público. A área onde ocorreu a tragédia simplesmente não era conhecida pela Defesa Civil da Prefeitura de Manaus. “Especificamente nesse lugar, quando mapeamos entre 2018/2019, não existia essa quantidades de casas, portanto não havia risco de atingir ninguém. O risco começa quando se instala moradias em beira de barranco”, explica Gilmar Honorato, geólogo do Serviço Geológico do Brasil / CPRM. Vale lembrar que a legislação brasileira determina que a competência desse tipo de fiscalização é do município.

Com o desconhecimento da área, de nada adiantaram os alertas da prefeitura. “O poder público até emitiu os alertas que ia chover 100mm, mas quem vive nas áreas de risco não os recebeu e não são treinados para saber o que fazer em caso de chuvas intensas”, explicou Gilmar. “A Defesa Civil tem que ter uma equipe especializada com geólogo/engenheiro com experiência em área de risco para treinar a população e ter lugar para essas pessoas se abrigar”, afirma.

O geólogo afirma que, dentre as medidas que podem ser tomadas estão a implantação de sirenes, treinamento das comunidades para fuga, obras de contenção, além, é claro, de evitar novas invasões próximas a barrancos e margens de igarapés. “E por fim, a equipe da Defesa Civil tem que mapear as novas áreas de risco todo ano, porque sempre aparecem novas áreas de risco”, alerta Honorato.

Vidas perdidas

Os corpos das vítimas deverão ser liberados pelo Instituto Médico Legal (IML) a partir das 14h desta segunda-feira (13/03/2023), e os sepultamentos deverão acontecer nesta terça-feira, (14/03/2023). Do total de 11 famílias atingidas pelo deslizamento do barranco, três famílias tiveram vítimas fatais, sendo quatro crianças. São elas:

Kaleb Mendes Nunes – 7 anos

Cleberson Nunes Barbosa – 34 anos

Jucicleia Barbosa de Lima – 32 anos

Heloísa Lima – 7 anos

Rosmig Helena Salazar – 44 anos

Island Frango Colares – idade não identificada

Israel Jonniel Frango – 7 anos

Dainelson Bosniel Alvorado – 5 anos


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