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Entenda por que a fumaça em Manaus ainda pode piorar

A combinação entre queimadas na floresta Amazônica e o clima mais seco provocado pelo fenômeno El Niño deixaram Manaus coberta de fumaça

Nos últimos dias, Manaus está envolvida em uma densa fumaça proveniente de queimadas. Atualmente, segundo dados do portal TerraBrasilis, plataforma desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para acesso, consulta, análise e disseminação de dados geográficos, o Amazonas lidera em número de focos de queimada em todo o país, com 30,2%. Além disso, o fenômeno El Niño também contribuiu para o problema, que pode se agravar nos próximos meses.

Entre os dez municípios do país com maior número de focos de queimadas, quatro estão no Amazonas, incluindo o segundo colocado: Apuí (distante 455 km de Manaus), com 1.707 no total. A cidade fica localizada na região de expansão agropecuária conhecida como “Amacro”, na divisa com o Acre e Rondônia. Apuí ficou conhecida como recordista de desmatamento em 2022, segundo dados do INPE. Lábrea, Novo Aripuanã e Manicoré completam a lista.

“A Amazonia é um bioma sensível ao fogo, o que significa que esses incêndios florestais que ocorrem lá não são naturais, mas sim causados pela ação humana. Apesar disso, esses incêndios são persistentes ao longo do tempo, tendo sido incorporados na cultura local por ser um método rápito, efetivo e barato de limpar áreas de plantio e de pasto”, afirma a Dra. Luisa Maria Diele-Viegas, professora do Laboratório de (Bio)Diversidade no Antropoceno da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Influência dos Niños

Na frieza dos números, aparentemente houve uma diminuição no número de focos de queimadas no Amazonas de 2022 pra 2023. Até esta quinta-feira (07/09/2023), por exemplo, foram registrados 10.568 focos de incêndio em todo o Amazonas, contra 13.259 focos no mesmo período de 2022. Entre janeiro e setembro de 2022, foram detectados a soma total de 18.571 focos, enquanto no mesmo período deste ano são 10.568.

Só que essa “diminuição” é apenas aparente. Os dados de satélite do INPE conseguem detectar a quantidade de focos de calor, não necessariamente a sua intensidade. Aí entra em cena também os fenômenos El Niño e La Niña, que afetam diretamente o regime de chuvas no planeta, incluindo a Amazônia.

“Ano passado, por conta do La Niña, tivemos mais chuvas ao longo do nosso verâo, o que ameniza um pouco as fumaças. Este ano, sob El Niño, quase não vimos chuvas em boa parte do estado. Isso inclusive pode afetar o tamanho das queimadas”, explica Carlos Durigan, Geógrafo e Ambientalista e membro da organização não governamental WCS.

“Faz sentido, pois o fenomeno leva a um aumento na temperatura da Amazonia e uma diminuição da humidade (i.e., o bioma fica mais quente e seco), condições que são propícias para aumentar a propagação desse fogo após ignição (ou seja: ele se espalha com mais facilidade)”, pondera Luisa Diele-Viegas.

É importante considerar que, se em 2022 La Ñina “atenuou” as queimadas apesar dos números altos do ano passado (o Amazonas teve aumento de 7% nos focos de queimada em relação a 2021) e a fumaça, este ano, a situação tende a ser pior. Ou seja, poderemos ter mais fumaça em Manaus nos próximos meses. Vale lembrar que em outros anos de El Niño, como 1997 e 2015, a capital amazonense também sofreu com a fumaça nesta época do ano. “Em 2015, ano que também sofreu com efeito El Niño, o auge foi entre outubro e novembro”, alerta Durigan.

Segundo dados do INPE e do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), as previsões dos modelos climáticos globais indicam mais de 90% de probabilidade do El Niño se manter até, pelo menos, o fim do ano. Quanto à intensidade, os modelos sugerem a continuação do fenômeno com nível moderado, podendo atingir a categoria de intensidade forte.

Origem na ação humana

Vale lembrar que os incêndios que dão origem a esse tipo de fumaça quase sempre é o homem. Pesquisa publicada na revista científica “PeerJ Life & Environment” em outubro de 2022 mostra que indica que grande parte dos incêndios, em todos os biomas, são provocados pelo homem e não pelas condições naturais do clima.


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