Aconteceu nesta quinta-feira (08/08/2024), na sede da Rede Band Amazonas, o primeiro debate entre candidatos a prefeito de Manaus. Com a já imaginada ausência do prefeito David Almeida (Avante), restou a Roberto Cidade (União Brasil), Amom Mandel (Cidadania), Marcelo Ramos (PT) e Capitão Alberto Neto (PL) o confronto de ideias para a administração municipal entre 2025 e 2028. E o cenário é pífio, porém longe de ser surpreendente.
O primeiro destaque é para a lamentável postura do atual prefeito David Almeida, que se recusou a comparecer, alegando que “os demais candidatos a prefeito de Manaus não vêm debatendo os problemas da cidade nem apresentando propostas”, mas sim promovendo “uma sucessão de mentiras, ataques e fake news contra o prefeito”.
Ora, se estão mentindo contra ele, falar em TV aberta é a chance perfeita de desmentir e desmoralizar seus adversários. Por que não aproveitou? Será assim durante toda a campanha? Vai sumir de programas de entrevistas e debates, processando seus críticos? E o eleitor? Como terá a chance de ter a prestação de contas do prefeito? A meu ver, a presença de qualquer agente público candidato à reeleição deveria ser obrigatória em todos os eventos do pleito.
De resto, o debate seguiu ao roteiro enfadonho e pouco informativo, que só serve agora para que candidatos façam declarações pirotécnicas que são recortadas para as redes sociais. Propostas propriamente ditas? Ideias fora do convencional para solucionar problemas do cotidiano como trânsito, saneamento, saúde? Zero. Teve candidato (Roberto Cidade) sem saber como funciona o sistema de marcação de exames pelo SUS, algo inadmissível a um aspirante de gestor público.
Mas o mais desesperador não é só o despreparo. Imaginar um prefeito onisciente, capaz de resolver sozinho todos os problemas de uma capital é ilusão. O mínimo que se espera, no entanto, é que um candidato a esse cargo tenha a percepção real da cidade que ele pretende administrar e qual será a linha de raciocínio para resolver seus problemas. Só assim ele será capaz de articular com o legislativo municipal, o governo do estado e a União. E nesse quesito TODOS falharam feio.
Você que viu o debate, responda com sinceridade: a cidade que eles descreveram (e que o prefeito descreve nas suas redes sociais) é a mesma na qual você vive? Os problemas apontados por eles são, de fato, os seus? A Manaus que eu vivo é uma cidade de 2 milhões de habitantes, metade deles pobre, crescendo desordenadamente em remendos sobre uma estrutura de 124 anos atrás em meio a uma crise climática, onde o poder público tem péssimos índices de transparência. É preciso uma reestruturação total da cidade, a começar pela sua política. E é desesperador ver os candidatos a prefeito ignorando isso.
Não se trata de alargar avenidas, deixar postos de saúde abertos 24h, combater um espantalho imaginário da corrupção ou mesmo militarizar (sério, chegaram a propor isso) escolas da rede municipal. É entender que os problemas são estruturais, vêm de décadas e que, apesar de não sererem resolvidos apenas pela gestão municipal, a solução precisa partir dela.
Outro dado fundamental: como é possível que em quase duas horas de conversa, a questão ambiental simplesmente não seja o centro do debate? A sensação térmica piora a cada ano, a fumaça se tornou frequente, secas e cheias são uma nova realidade, bem como suas consequências. E aí? O que vão fazer a respeito? Não sabemos.
Tudo bem que dois deles não moram em Manaus há dois anos, mas frequentemente estão por aqui. Então é inconcebível que fazer provocações contra os adversários seja mais relevante do que pautar uma crise dessa proporção. Esse dado em si é definitivo. Alguém que não tenha como meta principal um plano pra lidar com adaptação climática não pode ser prefeito de Manaus.
Como dito antes: um prefeito não precisa ser Salomão pra ser eleito, mas saber pra onde está indo é o básico. E o primeiro passo é diagnosticar esses problemas. E os indivídos sentados ali não pareciam capazes disso. E antes que digam: o que não foi já provou isso em quatro anos. A sensação que se tem é que, sem os celulares e assessores, o debate travaria nas considerações iniciais.
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