Políticos atuaram mais pela BR-319 do que contra fumaça

As queimadas, a estiagem e a fumaça que encobre Manaus e diversos municípios do Amazonas são parte de um problema maior: as chamadas emergências climáticas. É comum que, em momentos de calamidade pública, membros do legislativo em todo o país visitem os locais e promovam audiências para ouvir a população e especialistas e assim tirar dúvidas e saber o que fazer. No caso da atual crise, no entanto, isso não aconteceu.

Levantamento feito pelo Vocativo nos sites da Câmara dos Deputados, Senado, Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) e Câmara Municipal de Manaus (CMM) não há qualquer registro desse tipo de evento. Não há sequer solicitações de audiências com autoridades competentes para tratar da fumaça que encobre a capital desde setembro. Na verdade, quase não há menção ao termo nos sistemas de atividades das respectivas casas.

A única exceção é o deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) que entre setembro e outubro protocolou quatro pedidos de informação, mas todos voltados para o governo federal: um para o Ministérios da Integração e do Desenvolvimento Regional, um para a pasta da Saúde e dois para a pasta do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Nos sites da Aleam e da CMM, os únicos eventos que abordaram o problema das queimadas e da fumaça aconteceram no dia 19 de setembro e dia 13 de novembro, quando o legislativo estadual realizou Cessão de Tempo para a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros apresentarem detalhes sobre os planos de ações, que estão sendo executadas pelo Governo do Estado. Nenhum especialista foi ouvido.

Nenhuma ação midiática

Também chama atenção a ausência de diligências e visitações de parlamentares do Amazonas até o local das queimadas para fiscalização. Até esta segunda-feira (20/11/2023) nenhum esteve nos locais indicados pela Polícia Federal e Ministério do Meio Ambiente para conferir o trabalho de combate aos crimes ambientais. Curioso, uma vez que tais ações são bem comuns.

No dia 16 de outubro, o deputado federal Amom Mandel se uniu a mais de 300 voluntários em uma ação ambiental para recolher parte do lixo acumulado na orla do Parque Rio Negro, no bairro São Raimundo, zona Oeste da capital. Ao todo, foram recolhidos 600 sacos de resíduos, totalizando cerca de 10 toneladas de lixo. Amom é apontado como possível candidato a prefeito nas eleições de 2024.

Em diligência pela comissão parlamentar de inquérito que investiga organizações não governamentais (CPI das ONGs), o senador Plínio Valério foi até a comunidade indígena Haleti-Parecis, em Campo Novo dos Parecis (MT). Mas mesmo tratando da pauta ambiental, até o momento não esteve na área de origem da fumaça que cobriu Manaus.

O senador Plínio Valério foi até o Mato Grosso para tratar de ONGs, mas não foi até o foco das queimadas. Foto: Assessoria de imprensa do senador Plínio Valério

Já para a BR-319…

Já a repavimentação da rodovia BR-319 conta com atenção das bancadas do Amazonas em Brasília. Com exceção de Átila Lins (PSD), todos os parlamentares do estado no Congresso Nacional – os sete deputados federais restantes e três senadores – apresentaram proposições envolvendo algum aspecto da obra, apontada por especialistas como um dos principais focos de desmatamento e queimadas na região nos últimos cinco anos.

Os deputados Capitão Alberto Neto (PL-AM), com quatorze proposições, Fausto Santos Jr. (UNIÃO-AM), com sete e Amom Mandel (Cidadania-AM), com cinco, foram os que mais fizeram proposições, questionamentos ou manifestações sobre a rodovia federal.