Amazônia

CREM-AM silencia sobre nebulização de cloroquina em Manaus

Conselho Regional de Medicina do Amazonas não comentou o caso, não alertou para os riscos da técnica e se limitou a dizer que há um "procedimento Instaurado em andamento"

Corrigida às 14h

O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREM-AM) afirmou em nota enviada ao Vocativo que há um procedimento instaurado contra a ginecologista e obstetra paulistana Michelle Chechter, acusada de praticar nebulização de hidroxicloroquina em cinco pacientes com Covid-19 que morreram em Manaus. No entanto, a entidade não comentou o caso e nem ao menos alertou para os riscos da técnica usada pela profissional.

Os casos vieram a público após matéria da Folha de São Paulo nesta quarta-feira (14/04/2021), quando familiares denunciaram a morte de uma paciente grávida que estava internada no Instituto da Mulher Dona Lindu, na zona Centro-Sul de Manaus com a Covid-19 em fevereiro.

A vítima, Jucicleia de Sousa Lira, 33, recebeu uma sessão de nebulização com hidroxicloroquina, medicamento que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) não tem qualquer efeito contra a doença. Segundo a reportagem, há outras quatro pessoas que morreram após o procedimento.

A ginecologista Michelle Chechter atuou em Manaus com o marido, o também médico Gustavo Maximiliano Dutra, durante o segundo pico da pandemia no Estado, entre janeiro e fevereiro deste ano. O viúvo da vítima afirma que, durante as conversas no hospital, Chechter não o consultou sobre a nebulização ou o vídeo, o que é vedado aos profissionais da área.

Procedimento de alto risco

Não bastasse a ineficácia da hidroxicloroquina para tratar a doença, o ato de aspirar esse medicamento é extremamente perigoso. A Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, por exemplo, afirma que a prática causa danos ao sistema respiratório do paciente, que já está frágil por causa da própria Covid-19.

Além disso, o comprimido tem na sua composição talco e outras substâncias que quando inaladas podem causar broncoespasmo e se depositam no pulmão e vias aéreas causando uma reação inflamatória. Essa inflamação aguda se somando à inflamação pulmonar pela infecção viral tem o potencial de agravar o quadro. Vale lembrar que segundo a matéria da Folha, a causa da morte no atestado de óbito de Jucicleia foi justamente infecção generalizada.

Não é o primeiro caso do gênero. No último dia 25 de março, o Ministério Público do Rio Grande do Sul anunciou investigação contra outra médica que adotou a mesma técnica em hospital da cidade de Camaquã. Três pacientes que estavam com a Covid-19 e tiveram este tratamento morreram.

Alinhamento ideológico

Os Conselhos Regionais e o Federal de Medicina estão duramente cobrados pela comunidade científica por não se colocarem contra o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. Em público, o Conselho Federal de Medicina se justifica afirmando respeitar a chamada “autonomia do médico”. Entidades e veículos de comunicação, porém, denunciam que tal postura se deve ao alinhamento ideológico da maioria dos dirigentes dessas entidades com o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), que defende indiscriminadamente o uso desses remédios.

Recentemente, começaram a surgir nos EUA dezenas de processos de parentes de vítimas da Covid-19 que foram “tratados” com os medicamentos do chamado “kit covid”, composto pela hidroxicloroquina, a ivermectina, azitromicina e outros. Conforme matéria veiculada no Vocativo, a tendência é que esse movimento se repita aqui também.

Foto: CREM-AM / Facebook


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