Contexto

O que os assaltos a Criciúma e Cametá nos ensinam

Na madrugada de segunda para terça-feira (02/12/20), pelo menos 30 criminosos, com armas de grosso calibre, invadiram e assaltaram uma agência do Banco do Brasil no Centro de Criciúma (SC). Menos de 24 horas depois, outra agência do Banco do Brasil, desta vez em Cametá (PA).

A exemplo do ocorrido em Criciúma, os criminosos fizeram transeuntes reféns, com o objetivo de usá-los como escudo humano durante o enfrentamento com a polícia. Para dificultar o trabalho da polícia, integrantes dos grupos veículos para atrapalhar a saída de algumas viaturas da Polícia Militar.

Outro aspecto em comum nos crimes era o armamento pesado. Segundo as secretarias de segurança dos dois estados, os bandidos estavam com armas de grosso calibre, entre elas, fuzis, bazucas e explosivos do tipo C-4.

Para Ricardo Prado, mestre em Direito Processual Penal e Presidente do Movimento do Ministério Público Democrático, as semelhanças no assalto e o nível de organização e ousadia dos criminosos é um sinal preocupante.

“O crime organizado está se sofisticando, usando técnicas e aparatos de última geração. Escolhem o alvo e montam uma operação minuciosamente planejada. A história mostra que pouquíssimos agentes conseguem de beneficiar do produto do roubo. A maioria acaba presa, morta ou roubada. No entanto, a situação é muito ruim para a segurança da população. Como os valores envolvidos são altíssimos, isso – na visão deles – compensa o risco”, avalia.

Rastreamento

Na repercussão dos crimes, muitos especialistas em segurança pública atribuíram o aumento da circulação do tipo de armamento pesado usado nos crimes à portaria nº 62 do exército, editada pelo presidente Jair Bolsonaro (foto) e publicada em abril deste ano. Nela, o presidente revogou regras sobre acompanhamento, rastreamento, dispositivos de segurança e marcação de armas de fogo e munição no Brasil.

“A política de relaxar no rastreamento de armas facilita a propagação de armamento pesado nas mãos de criminosos. Essas armas são furtadas ou desviadas do comércio legal, portanto, se originam de comércio que iniciou lícito e, no meio da caminho, foi desviado para a criminalidade. Um controle rígido sobre armas ajuda a diminuir essa fonte de risco”, explica Prado.

Menos dinheiro circulando 

Durante a fuga, os bandidos que assaltaram o banco de Criciúma deixaram cerca de R$380 mil como forma de tentar despistar a política. Por conta disso, reduzir o volume de transações em dinheiro vivo, estimulando o uso de dinheiro contábil, virtual (cheques, cartões, aplicativos). 

“É preciso monitorar à distância depósitos de valores. Alguns bancos e companhias de transporte de valores – alvos preferenciais desse tipo de ação – devem ter sistema de apoio imediato por controle remoto – hoje se acompanha 24 horas o tráfego de rodovias, estações de metrô, etc. Essas agências precisam ser monitoradas para que possa haver reação imediata das forças do Estado”, recomenda ex-procurador. 

Vigilância

Além de monitorar as armas e o dinheiro, é preciso que o poder público seja mais ágil. “Criar grupo de trabalho – Polícias, área financeira e Ministério Público – para combater esse tipo de criminalidade. Essa não foi uma ação única, tivemos outros crimes dessa espécie em passado recente (em Ribeirão Preto, Araçatuba, etc); muitos dos agentes são conhecidos por algumas áreas da Polícia, é preciso integrar esse conhecimento para uma ação mais eficiente”, relembra. 

Outra recomendação de Ricardo Prado é investir também na punição desse tipo de crime. “Não deixar esse tipo de crime compensar é fundamental, portanto, é preciso punir os criminosos e buscar a recuperação, tanto quanto possível, dos valores roubados”, ensina.


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