Após as imagens chocantes de indígenas Yanomami em condições precárias em Roraima, a opinião pública brasileira rapidamente se colocou contra o garimpo na região Amazônica. Com o governo federal finalmente atuando para combater a prática, muitos começaram a vibrar com a destruição de equipamentos e o desespero de quem pratica a atividade. No entanto, tratar a questão de forma rasa não vai resolver o problema. E pode agravá-lo.
Antes de mais nada, uma coisa precisa ficar clara: não há como praticar garimpo na Amazônia de maneira segura, conforme o Vocativo já explicou nesta matéria de 2021. Dito isso, é preciso olhar com mais cuidado para a indústria que existe nos bastidores da extração de ouro na região e refletir sobre o que é necessário para resolver o problema.
Para extrair ouro da Amazônia, são necessárias três coisas: conhecimento técnico, maquinário e mão de obra. Os dois primeiros não são baratos. As balsas e aviões que a Polícia Federal está destruindo há dias custam na casa de centenas de milhares de reais. Gente com expertise para saber onde extrair também não é algo simples de achar. E não há como a população pobre da região ter esse tipo de patrimônio por si só. Ou seja, gente rica, que lucra com essa atividade, que a está patrocinando. Quem? Essa é a primeira pergunta a ser respondida.
Resta saber o que fazer com os garimpeiros. Historicamente, sabemos que ninguém entra na mata se expondo aos riscos da floresta e da contaminação por mercúrio a não ser por falta de opções de trabalho e em busca de melhores condições de vida. Simplesmente expulsar ou colocar todos na prisão não resolverá o problema porque a lucratividade do negócio permanece. Ou seja, outros serão recrutados.
Mal comparado, é como a questão das drogas. Diariamente a polícia prende centenas de pessoas que não são perigosas pelo tráfico de algumas gramas de entorpecentes. No fim das contas, é como enxugar gelo: atacam o efeito, ao invés da causa. O problema é que nisso, essas pessoas vão para presídios e engrossam as fileiras do crime organizado que se fortalece.
Tratar a questão do garimpo de maneira simplória vai ter o mesmo resultado. É fundamental que o poder público entenda quem são as pessoas que buscam essa atividade e dar a elas opções. A atividade precisa ser criminalizada e duramente combatida. Mas as sentenças precisam ser mais educativas do que punitivas.