Amazônia Covid-19

Segura e necessária: tudo sobre a vacinação contra a Covid-19 em crianças

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta quinta-feira (16/12/21) o uso da vacina contra a Covid-19 produzida pelo consórcio Pfizer-BioNTech, em crianças com idade de 5 a 11 anos. Com os movimentos de desinformação crescendo no país, muitos pais podem se sentir inseguros em levar seus filhos para os postos. No entanto, especialistas garantem que a imunização das crianças não é apenas segura e eficiente, como também fundamental para o controle da pandemia.

Crianças também adoecem e morrem

Antes de mais nada, é preciso interpretar corretamente o dado que a Covid-19 só causa doenças leves em crianças. Isso até é verdade, mas muitas ainda desenvolvem quadros graves, sofrem com sequelas e inclusive morrem. E nunca é possível saber se o seu filho(a) está no grupo menor que pode desenvolver sintomas severos da doença. E como o vírus SARS-COV-2 circula livremente no país, mesmo o percentual baixo de vítimas entre as crianças torna os números muito preocupantes.

Segundo a Fundação Oswaldo Crus (Fiocruz), quase metade das crianças e adolescentes brasileiros mortos por Covid-19 em 2020 tinham até 2 anos de idade; um terço dos óbitos até 18 anos ocorreram entre os menores de 1 ano e 9% entre bebês com menos de 28 dias de vida. As informações constam em análise de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade Infantil (SIM), do Ministério da Saúde (MS), financiado pelo Programa Fiocruz de Fomento à Inovação (Inova Fiocruz) divulgada em agosto deste ano.

Em todo o país, até maio deste ano, cerca de mil crianças, de 0 a 9 anos de idade, morreram vítimas da doença, segundo um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, mas acredita-se que o número possa ser maior. Em todo o Amazonas, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), cerca de 137 crianças morreram vítimas da Covid-19, sendo 85 só em Manaus.

Afinal, as vacinas são seguras?

Certo, não resta dúvida de que as crianças precisam ser vacinadas. Mas uma das maiores perguntas dos pais é com relação à segurança das vacinas, especialmente em crianças. Quanto a isso, não há o que temer. Isso quem prova são os números. Em todo o mundo, diversos países já começaram a vacinar crianças com os mesmos níveis de segurança e eficácia dos adultos.

Segundo a Pfizer, todos os países da União Europeia, além dos EUA, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, Panamá, Peru e Uruguai já iniciaram a imunização das crianças nessa faixa etária. Argentina e Chile também começaram, mas utilizando a Coronavac.

Um dos únicos efeitos colaterais documentados com a vacina da Pfizer, única aprovada para esse grupo no Brasil até o momento, foram casos de miocardite, um tipo de inflamação do coração. No entanto, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) dos Estados Unidos foram apenas oito casos em mais de 7 milhões de crianças.

A vacinação também proporciona melhor qualidade de vida para as crianças e seus pais, tão afetada em quase dois anos de restrições. “Para as crianças significa conter adoecimento grave e mortes, além de proporcionar um convívio social mais seguro, incluindo escolas e espaços de lazer”, afirma o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz da Amazônia. Mas levar os imunizantes para crianças também traz benefícios para os mais velhos.

“A composição das vacinas não representa risco à saúde. Não há evidências de que vacinas sejam prejudiciais ao desenvolvimento das crianças. Crianças tomam muito mais vacinas do que adultos e isso tem trazido benefícios na queda de mortalidade por diversas doenças, há décadas”, explica Letícia Sarturi, professora, mestre em Imunologia e roteirista do podcast @EscutaACiencia.

E se você ouvir a afirmação de que as vacinas usadas atualmente são experimentais, pode ficar tranquilo também. “Pra quem ainda insiste na tese de vacinas experimentais porque estamos na fase IV, sorry, porque todos os medicamentos e vacinas aprovados, quando disponibilizados para a população, entram na fase IV. Por essa lógica, você não deveria usar mais nenhum medicamento, por exemplo”, pondera a cientista.

Controle da pandemia

A normalidade (ou algo próximo a ela) só vai voltar quando a circulação do novo coronavírus for contida ou pelo menos o máximo de pessoas possível estiver vacinada e com maior proteção contra formas graves da Covid-19. Isso também impediria o surgimento de novas variantes que podem escapar dos efeitos protetores dos imunizantes. E nesse ponto, incluir as crianças na campanha é fundamental.

“Para a população como um todo, vacinar as crianças é reduzir ainda mais as chances de contágio pelo novo coronavírus na população e de novas mutações, assegurando o controle da epidemia, adoecimentos e mortes evitáveis, bem como redução de gastos desnecessários com assistência médico-hospitalar e o desgaste ainda maior de trabalhadores de saúde, nitidamente exaustos”, lembra Jesem Orellana.

Diferenças e recomendações

Vale lembrar que, embora o fabricante seja o mesmo, a vacinação em crianças com as doses da Pfizer terá algumas diferenças importantes. A Anvisa apresentou algumas recomendações e condições que devem ser observadas pelas autoridades de saúde para a imunização desse público.

A vacinação em crianças deve priorizar grupos consideradas como de risco. Pais ou responsáveis devem ficar atentos com relação ao frasco da vacina, que terá cor laranja. Para adultos, o frasco é roxo. A administração da vacina em crianças será de duas doses de 10 microgramas com três semanas de intervalo. O volume a ser aplicado é de 0,2 ml em uma seringa de 1 ml.

A sala em que se dará a aplicação das crianças deve ser separada dos adultos e deve ser exclusiva para a aplicação dessa vacina, não sendo aproveitada para a aplicação de outras, ainda que pediátricas. Não havendo essa possibilidade, devem ser adotados todos os cuidados visando uma administração segura.

No caso de comunidades isoladas, como aldeias indígenas, a Anvisa recomenda que, sempre que possível, a vacina seja feita em dias separados, diferentes dos dias de aplicação em adultos. Ah, e importante: por precaução, é recomendado intervalo de 15 dias para outras vacinas pediátricas.

A modalidade de vacinação drive thru deve ser evitada. Outra recomendação é que os agentes de saúde devem informar aos pais ou responsáveis que acompanham crianças e adolescentes sobre sintomas e reações esperadas após a vacinação, como dor, inchaço ou vermelhidão local, febre, fadiga, dor de cabeça ou linfadenopatia (gânglios) na axila do braço que recebeu a vacina.

Reflexão

Se ao final de todas essas informações você ainda estiver em dúvida, os pesquisadores ouvidos nessa matéria deixaram algumas reflexões. “Os benefícios [da vacinação] são diretos para as crianças e indiretos e até mais importantes para a população”, afirma Jesem Orellana. “Seus filhos estão sob sua responsabilidade e é você quem vai sofrer o arrependimento de não tê-los vacinado, caso algo ruim aconteça. Pense nisso!”, alerta Letícia Sarturi.

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