Contexto Opinião

Salvar a democracia passa pela reformulação das Forças Armadas

Desde que o ex-presidente Michel Temer devolveu o ministério da Defesa para os militares, integrantes das forças armadas voltaram a ter um inadequadro protagonismo político no país. O Vocativo inclusive fez ampla materia na Contexto sobre esse assunto de dezembro de 2021.

Agora, sob a turbulência de uma tentativa de golpe de Estado, as reais intenções dos fardados estão finalmente aparecendo. Com as forças de seguranças do país tomadas pela ideologia da extrema direita é hora de restabelecer a ordem e acabar com o Partido Fardado, sob pena de destruição da democracia brasileira nos próximos anos.

Gota d’água

Neste sábado (21/01/2023) o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, anunciou na noite deste sábado a troca do Comando do Exército. O general Tomás Miguel Ribeiro Paiva assume o comando no lugar do general Júlio César de Arruda, designado em dezembro, durante o governo de transição.

A mudança aconteceu após o comportamento do comando das forças armadas com os atos terroristas em Brasília no oito de janeito. Reportagem do Washington aponta que durante o cumprimento da determinação do ministro Alexandre de Moraes (STF) de dissolver os acampamentos golpistas nas portas do quartéis do país, Arruda disse ao ministro da Justiça, Flávio Dino a seguinte frase: “Vocês não vão prender gente aqui”, dando oportunidade a centenas de golpistas escaparem da prisão.

Segundo a colunista Thaís Oyama (UOL), a gota d’água teria sido o fato de Arruda ter se negado a suspender a nomeação do tenente-coronel Mauro Cid para chefiar o 1º Batalhão de Ações e Comandos em Goiânia. Cid, para quem não se lembra, Cid foi acusado essa semana de articular um esquema de Caixa 2 com o presidente Jair Bolsonaro.

José Múcio

“As relações, principalmente no Comando do Exército, sofreram uma fratura num nível de confiança e achávamos que precisávamos estancar isso logo de início para superar esse episódio. Queria apresentar o substituto, general Tomás, que a partir de hoje é o novo comandante”, afirmou José Múcio Monteiro. O problema é que Múcio também é um nome bastante controverso.

Desde o final das eleições, a vitória do então candidato Luís Inácio Lula da Silva trouxe a preocupação de como seria o comportamento das Forças Armadas. A indicação de Múcio deveria servir como uma espécie de “algodão entre cristais” na relação entre Lula e as tropas. Mas depois de afirmar que tinha amigos entre os golpistas acampados e que eram manifestações pacíficas – pouco antes dos ataques – corroeu sua imagem.

“Acho que havia opções melhores”, opina Marcelo Oliveira Pimentel, coronel da reserva e mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme). Questionado se acreditava que Múcio era bolsonarista, o coronel fez um alerta. “Tudo leva a crer que sim! Basta ver a entrevista dele ontem na GNews e seu passado político completamente vinculado aos ‘militares’ e à Ditadura”, afirmou marcelo ao Vocativo.

Análise

Que uma parcela significativa das forças de segurança do país, seja das Forças Armadas, seja das Polícias está contaminada pela ideologia da extrema direita, isso é fato. Historicamente, a democracia brasileira sempre foi influenciada pela ação direta ou indireta dos militares. E é hora de acabar com essa interferência indevida.

O fato é que desde o final do governo Bolsonaro, diversos colunistas e veículos de comunicação vêm destacando falas de bastidores sobre desejos e vontades de militares com relação ao novo governo. Isso é um absurdo. Em uma democracia, militares não opinam sobre política. Apenas cumprem ordens dos presidentes eleitos. E passa da hora de parar de dar palco para esses indivíduos e seus porta-vozes.

A boa notícia é que a conjuntura política nacional e principalmente internacional não permite sucesso em um golpe de Estado. A maior prova é que a ação de militares nos ataques de oito de janeiro foi indireta. Em outro momento, um golpe poderia ter acontecido no momento da eleição de Lula ou logo após sua posse.

Exatamente por isso a posição do governo atual precisa ser implacável e inflexível. Como já foi dito aqui no Vocativo, se não houver uma punição exemplar para todos os conspiradores, eles tentarão novamente. E em algum momento, a democracia brasileira pode não resistir.

Todos os militares que participaram dos ataques contra a democracia e tiveram participação nas ações federais durante a pandemia da Covid-19 precisam ser levados à justiça. CIVIL, que fique claro. Aliás, é um ótimo momento para debater o fim da justiça militar. Ter uma farda e andar armado não tornam ninguém uma casta especial.


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