Amazônia

Em visita a Manaus, representante do MS defende “tratamento precoce” e não fala em vacina

Após a determinação judicial que obriga o fechamento de atividades não essenciais publicada no último sábado (02/01), o governo do Amazonas fez transmissão pelas redes sociais no final da manhã desta segunda-feira (04/01) para definir os próximos passos no combate ao avanço da Covid-19 no estado. Na transmissão, no entanto, não foi citada em nenhum momento a palavra vacina.

Esteve presente na reunião a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde e representante do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro. Ela defendeu o chamado “tratamento precoce” para a Covid-19 e aproveitou para atacar a imprensa. “Vemos notícias na imprensa, muitas vezes espalhando desinformação, de que o tratamento não funciona. Temos uma série de evidências de que funciona, inclusive com aval do Conselho Federal de Medicina (CFM)”.

A secretária aproveitou para lançar aplicativo piloto TrateCOV. O software consiste em um protocolo clínico para fazer um diagnóstico rápido da doença. Por um aplicativo de celular, profissionais de saúde irão utilizar um sistema de pontos que obedece rigorosos critérios médicos. Manaus será a primeira cidade a testar o aplicativo que, posteriormente, poderá ser ampliado para outros municípios. “O diagnóstico não é do teste, é do profissional médico. O tratamento, a prescrição, é do médico. E a orientação é precoce. Essa é a orientação de todos os conselhos de medicina”, disse Pazuello, defendendo o tratamento precoce contra a Covid-19.

“Diante do quadro epidemiológico que hoje toma conta do estado do Amazonas e diversos estados brasileiros, nós estamos apresentando para a sociedade um aplicativo que permite forte valor preditivo, que diz se um doente, diante de suas manifestações clínicas, tem ou não a Covid-19. E assim nós pudemos, em um período de cinco minutos de utilização do aplicativo, ofertar imediatamente para milhões de brasileiros o tratamento precoce, evitando que essas pessoas evoluam para quadros mais graves”, afirmou Mayra Pinheiro, explicando que o app já está disponível nas plataformas do Ministério da Saúde.

O “tratamento precoce” defendido pela secretária consiste em medicamentos como a hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e vitaminas, o que não possui aval da comunidade científica. Vale lembrar ainda que a posição formal da Organização Mundial de Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde de que tal procedimento não existe e que não há medicamento que possa tratar a doença de forma precoce. Entidades como a Sociedade Brasileira de Infectologia inclusive já desaconselharam o uso desses medicamentos contra a Covid-19.

E ao contrário do que disse a representante, o Conselho Federal de Medicina, na verdade, publicou nota defendendo a autonomia para os médicos receitarem medicamentos que acharem apropriados e condicionou o uso da hidroxicloroquina a autorização por escrito dos pacientes.

Apesar da afirmação feita durante a live, a secretária não apresentou nenhuma evidência ou estudo científico comprovando a eficácia de qualquer tratamento contra a Covid-19.

Situação atual

Segundo a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), Rosemary Pinto, o estado saiu da fase vermelha e entrou na fase roxa, que representa a de maior risco da pandemia. Segundo a diretora, houve aumento de 120% na média móvel diária de casos, chegando a 700 casos por dia no mês de dezembro. O número de óbitos também aumentou em 66% no mesmo período.

“Temos notado também o aumento de óbitos em casa, por isso é fundamental não aglomerarmos neste momento. Precisamos manter as medidas de proteção, como o uso de máscara e higienização das mãos em todos os momentos. Também é importante fazer a higienização correta das máscaras e trocá-las a cada três horas”, orientou.

Outra recomendação feita foi a da procura imediata a uma unidade de saúde em caso de sintomas da Covid-19. Pacientes como comorbidades como câncer, diabetes e hipertensão devem continuar com seus respectivos tratamentos. “É importante que não interrompam seus tratamentos. Observamos que esses pacientes evoluem para uma forma grave com maior velocidade”, explicou.

Ocupação de leitos

O governador Wilson Lima aproveitou para falar da ampliação de leitos para pacientes com a doença, mas afirmou que, no atual ritmo, a rede estadual entrará em colapso. “Só nos últimos dois meses nós passamos de 457 leitos para 1.038, todos destinados para pacientes com Covid-19. Agora, os números de internações têm aumentado significativamente. De sábado para domingo, nós tivemos 159 internações, o que é um número muito alto. Se não houver a colaboração de todas as pessoas, entendendo que é preciso evitar aglomerações e respeitar as orientações das autoridades em saúde, vai chegar um momento em que nós não teremos leitos disponíveis para atender aquelas pessoas que forem acometidas pela Covid”, alertou o governador. 

Segundo Rosemary Pinto, a rede particular do estado já se encontra em colapso. “Atualmente, temos ocupação de 100% da rede de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) da rede privada, o que aumenta ainda mais a pressão sobre a rede pública”, alertou.

Vacina

Apesar da situação crítica e da recomendação da Defensoria Pública do Estado para apresentar um cronograma de vacinação, nem o governador Wilson Lima, nem a representante do Ministério da Saúde falaram em qualquer data ou quantidade de vacinas que seriam destinadas ao Amazonas durante a transmissão.

Foto: Secretaria de Estado da Comunicação (Secom)

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