A convite da produção do portal A Crítica, estive presente ao debate entre os candidatos do Amazonas a uma vaga no Senado federal nas eleições gerais de 2022. E o que se viu foi um show de horrores que mostra a necessidade urgente de renovar o quadro político do nosso estado. O programa contou com a participação dos candidatos Omar Aziz (PSD), Luís Castro (PDT), Bessa (Solidariedade), Pastor Peter Miranda (Agir), Coronel Menezes (Patriota), Marília Freire (PSOL) e Arthur Neto (PSDB).
Estamos em uma eleição. É lógico que, gostemos ou não, se trata também de um jogo. E como em todo jogo, há tática e estratégia. Mais do que convencer o eleitor a votar nele, o candidato ali presente precisa tentar convencer quem está assistindo a não votar nos seus adversários. Então achar que teremos um simples “confronto de ideias” é ingenuidade. Mas há limites para a tática e o jogo.
Ao longo do debate de ontem, o que se viu foi o confronto de candidatos sem repertório técnico, que repetiam a mesma pergunta para atacar um concorrente específico, apelos religiosos inflamados, mentiras facilmente desmontáveis e, é claro, as costumeiras bravatas e gritos.
Luís Castro e Marília Freire destoaram positivamente dos demais. Apesar do pedetista em determinado momento ter usado o episódio do entedado do ex-prefeito Arthur Virgílio para atacá-lo. Explicando: o candidato do PSDB responde na justiça pela acusação de ter usado a prefeitura para proteger o filho da esposa de uma acusação de homicídio).
Veja, o assunto, apesar de ser da vida pessoal do ex-prefeito, é importante e precisa ser discutido porque trata da probidade de um gestor público. Desde que esse seja o objetivo da pergunta. Levantar o tema só pra desestabilizar emocionalmente o adversário é uma tática desonesta. Enquanto se ateve a temas de interesse público, Castro foi bem.
Já a psolista mostrou aquilo que faltou aos outros: equilíbrio e foco nos temas do debate. Que fique aqui bem claro: votar ou não nos dois não está em questão. Isso vai da afinidade ideológica dos eleitores. Mas é inegável que diante da pobreza intelectual da maioria dos participantes, o desempenho da dupla foi notadamente superior. Você pode ser um eleitor de direita, assistir o debate, concordar comigo e ainda assim preferir outro candidato.
No mais, o que se viu foi um espetáculo deprimente entre os candidatos mais bem colocados nas pesquisas. Bessa e Pastor Peter Miranda se revezaram entre arroubos de valentia e proselitismo religioso barato. Quando perguntados sobre assuntos básicos fundamentais que qualquer congressista precisa saber (Marco Temporal, Rol Taxativo da ANS), ou mudaram de assunto ou usaram a pergunta padrão de quem não sabe do que estão falando: “O que você pensa a respeito?”.
Miranda e Coronel Menezes, como bons apoiadores do presidente, seguiram à risca a cartilha do seu líder e fizeram o que ele faz melhor: mentiram e desinformaram. O pastor conseguiu a proeza de, no mesmo debate, atacar a vacina contra a Covid-19, defender tratamentos inúteis contra a doença e manifestar toda sorte de preconceitos contra povos indígenas. O militar, por sua vez, ignorou os efeitos negativos dos decretos presidenciais sobre a Zona Franca de Manaus. Ah, e teve sua vida sexual alvo de comentários do candidato Bessa.
Por último, mas não menos importante, precisamos falar sobre idade. Vejam, antes que me acusem disso, não se trata de etarismo. Luíza Erundina (PSOL-SP), por exemplo, tem 87 anos e concorre à reeleição para a Câmara dos Deputados. Mas faz isso porque defende sua ideologia, porque defende pontos de vista claramente identificáveis e mostra disposição pra isso. Então é compreensível a sua candidatura. É uma forma de resistência até.
Agora faço aqui uma pergunta sincera e honesta: você consegue identificar o mesmo em candidatos como Arthur, Omar, Amazonino (governo)? Parece que eles lutam por algo que não seja suas próprias carreiras? E não venham com esse discurso de dizer que “lutam pelo Amazonas” ou “amam o nosso povo”. Isso é sentimentalismo barato. Precisamos de parlamentares que tenham sintonia com as reais necessidades do povo, que se posicionem a nosso favor mesmo contra o resto do país e que defendam ideias claras, propostas concretas, modernas. No debate, era difícil até ouvir o que diziam.
É inegável que ainda são figuras conhecidas e de claro poder financeiro para concorrer, ou seja, diminuem a chance de renovação que se faz cada vez mais necessária no cenário político. Claro, juventude não garante inovação (como diria James Bond), mas manter caciques com o mesmo discurso de décadas atrás, que não conseguem se renovar definitivamente não é o caminho.
Qualquer cidadão tem o direito de concorrer a cargos públicos enquanto desejar. Até o fim da vida. Isso não se discute. Mas o ponto não é discutir se podem, mas se devem. É preciso reconhecer a necessidade de se renovar, evoluir. E se não é possível, então é o momento de parar. O debate de ontem mostrou o quanto precisamos desesperadamente de renovação.