O mais recente relatório do IPCC, divulgado nesta segunda-feira (20/03), deixa claro que é necessária uma eliminação rápida de todos os combustíveis fósseis para minimizar danos irreversíveis às pessoas e aos ecossistemas. Cientistas alertam que se a elevação da temperatura global ultrapassar 1,5°C em relação aos níveis pré-Revolução Industrial, o impacto da crise climática sobre comunidades e meio ambiente será catastrófico.
“A urgência aumentou e a janela de tempo para reverter diminuiu, e algumas mudanças já são irreversíveis. Mas há tecnologia e recursos financeiros para agir”, explica Paulo Artaxo, professor da USP e Coordenador do Programa Mudanças Climáticas da Fapesp. De acordo com o pesquisador, tanto quando preservar florestas, é fundamental adaptar as cidades para que elas contribuam, como todo, para diminuir emissão de gases causadores do efeito estufa.
“As alterações climáticas hoje já são capazes de desencadear eventos climáticos extremos. A capacidade de adaptação ao aquecimento global também está chegando no limite, o que significa que é preciso, de fato, diminuir as emissões globais”, alertou Mercedes Bustamantes, autora do Relatório de Síntese do AR6 do IPCC, presidente da Capes e professora da Universidade de Brasília.
“Esses eventos climáticos extremos estão se intensificando a tal ponto, especialmente em relação aos oceanos, que as séries históricas – as medições periódicas desses fenômenos – estão ficando mais imprevisíveis”, afirma Moacyr Araújo, Vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenador da Rede Clima . De acordo com o pesquisador, isso torna as pessoas que moram em regiões de risco mais vulneráveis eventos como os que aconteceram no Litoral Norte de São Paulo no carnaval deste ano.
Tomando por base os três relatórios anteriores dessa série, a evidência é clara: embora haja uma crescente mobilização política, empresarial e social, o cenário ainda é negativo, a menos que o mundo acelere com urgência os esforços para enfrentar a crise climática.
Apesar de tudo, há boas – porém tímidas – boas notícias. “Embora o tom deste relatório não surpreenda ninguém que esteja familiarizado com os três anteriores, o alerta é coerente: está ocorrendo um progresso lento, mas ele ainda representa apenas uma gota no oceano, em comparação com o tamanho da emergência”, anima-se a CEO da The Nature Conservancy, Jennifer Morris.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado em 1988 para fornecer aos formuladores de políticas avaliações científicas regulares sobre o estado atual do conhecimento sobre as mudanças climáticas. O Relatório de Síntese é o último dos produtos do Sexto Relatório de Avaliação, com lançamento previsto para informar o Balanço Global de 2023 pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Em 2023, todos os países revisarão seu progresso em direção às metas do Acordo de Paris.