O Reino Unido se tornou hoje (30) o primeiro país a aprovar a vacina contra coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca, torcendo para que uma ação rápida o ajude a conter uma disparada de infecções impulsionada por uma variante altamente contagiosa do vírus. Apesar da boa notícia, dúvidas quanto a eficácia da vacina ainda causam desconfiança na comunidade científica internacional.
O governo do primeiro-ministro Boris Johnson, que já encomendou 100 milhões de doses da vacina, disse ter aceitado uma recomendação da Agência Regulatória de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) para conceder uma autorização de emergência.
A aprovação respalda uma vacina vista como essencial para imunizações em massa no mundo em desenvolvimento, assim como no Reino Unido, mas não elimina dúvidas sobre dados de testes que tornam improvável que ela seja aprovada tão rapidamente na União Europeia ou nos Estados Unidos.
“O NHS (Serviço Nacional de Saúde) poderá levar estas vacinas aos braços das pessoas na velocidade com que ela pode ser fabricada”, disse o secretário da Saúde, Matt Hancock.
“Agora eu, com esta aprovação nesta manhã, estou altamente confiante de que podemos vacinar pessoas vulneráveis suficientes até a primavera a ponto de podermos ver nosso caminho para fora desta pandemia agora.”
Dúvidas
O problema envolvendo especificamente esta vacina está na dúvida com relação a sua real eficácia. Em estudos de fase 3 apresentados em novembro, a eficácia variou entre 62% e 90%. Isso porque devido a um erro no ensaio, foram administradas doses diferentes para dois grupos de pacientes, um recebendo uma única dose (que conferiu 90% de proteção) e outro recebendo duas (o que conferiu 62%). Por conta disso, o estudo está sendo revisado, o que pode atrasar a aprovação em outros países, como o Brasil.
Mas essa não é a única dúvida a respeito da vacina da Oxford-AstraZeneca. “De acordo com o estabelecido pelo FDA [Food And Drug Administration, órgão regulador de medicamentos nos EUA] e a OMS [Organização Mundial de Saúde], o limite inferior do intervalo de Confiança – uma medida da faixa de incerteza do resultado – deve estar acima de 30%. O ensaio do Reino Unido não alcançou esse limite (28%). O ensaio do Brasil passou raspando (30,7%)”, explicou a epidemiologista Denise Garrett, em sua conta no Twitter.
A proteção para idosos também gera dúvidas. “A eficácia de 62% foi para pessoas até 55 anos de idade. Apenas 718 pessoas do grupo dos vacinados tinham mais de 56 anos e só 224 delas mais de 70 anos. A vacina da Pfizer, por exemplo, tinha 8.396 com mais de 55 anos e 860 com mais de 75 anos. Isso significa que a vacina pode não ter eficácia adequada em idosos e há poucos dados de segurança para eles”, alertou.
Acordo
O governo brasileiro tem acordo com a AstraZeneca para o fornecimento de doses da vacina ao país e para a posterior produção local do imunizante pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ainda não há pedido de registro da vacina ou de autorização para uso emergencial junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Testes mostraram que a vacina da Oxford é menos eficaz do que a da Pfizer/BioNTech, mas pode ser armazenada e transportada sob refrigeração normal, ao invés de super-resfriada a 70 graus Celsius negativos, o que é crucial para países com infraestrutura de saúde mais básica.
A Índia está determinada a começar a administrar a nova vacina no mês que vem. O Instituto Serum da Índia (SII), o maior produtor mundial de vacinas, já fabricou cerca de 50 milhões de doses. O Chile também está interessado.
O Reino Unido se destacou de outros países ocidentais com sua abordagem acelerada de vacinações, tendo liberado a vacina Pfizer/BioNTech semanas antes da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
Também nesta quarta-feira, uma comissão de aconselhamento do governo britânico recomendou uma mudança de rota: dar uma primeira dose da vacina contra coronavírus de imediato ao maior número possível de pessoas, ao invés de dar a segunda dose de reforço dentro do período de tempo mais curto.
Com informações e foto da Agência Brasil