O Ministério da Saúde decidiu nesta segunda-feira (10/01/22) reduzir de dez para sete dias o período recomendado de isolamento para pacientes com Covid-19. A mudança, no entanto, não é segura de acordo com especialistas ouvidas pelo Vocativo e pode favorecer a disseminação da doença.
Segundo a atualização do guia de vigilância epidemiológica para a Covid-19 do ministério, caso não haja mais sintomas no sétimo dia, a pessoa pode sair do isolamento. Existe ainda uma possibilidade de encurtar ainda mais o tempo de isolamento. Caso no quinto dia o paciente não tenha mais nenhum sintoma respiratório, não apresente febre e esteja há 24 horas sem usar medicamento antitérmico, ele pode fazer um teste rápido de Covid-19. Se o teste der negativo para o vírus, ele também está liberado.
A mudança segue uma alteração feita pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e foi criticada por membros da comunidade científica brasileira. “Acho complicado pois as pessoas podem transmitir por um tempo maior”, opina a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19.
“É arriscado. Em geral, nosso sistema imune leva uns 7-10 dias para combater a infecção e neutralizar a carga viral. Com a vacina (até 4 meses após a dose, com anticorpos neutralizantes presentes), isso reduz em 3 dias, ou seja, uma pessoa vacinada que se infecta, ainda poderia transmitir até o 5o dia”, alerta alerta Melissa Markoski, professora de biossegurança da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro da Rede Análise Covid-19.
Outro grande problema é que o teste negativo não necessariamente significa ausência do vírus no seu corpo. “Mesmo que você tenha teste negativo, digamos após o 7º dia, você ainda pode ter um pouco de carga viral infecciosa. Claro que bastante pequena, e provavelmente a transmissão será rara, mas o risco existe. E há pessoas que responderão prontamente à infecção, neutralizando-a rapidamente (3-5 dias) e há outras que demorarão bem mais (mais que 7 dias, pelo menos)”, lembra Melissa.
“A gente não pode dizer, de fato, que com sete dias as pessoas não estão transmitindo de fato. Muitas pessoas podem estar transmitindo por um período maior. Isso é muito variável, independente da variante. Não tem um padrão muito claro desse período. Por causa disso é preferível um período maior, de dez dias, para garantir que a pessoa não esteja transmitindo a doença”, explica Letícia Sarturi, imunologista e responsável pelo podcast @EscutaACiencia.
De acordo com Letícia, a redução até poderia ser adotada, desde que fossem feitas algumas medidas de monitoramento, como testes de antígeno. “Se o paciente teve cinco dias de isolamento e após 24 horas, ou seja, no sexto dia, ele fizer um teste e der negativo, que pode ser o antígeno, ele pode sair do isolamento. Mas ainda é recomendado que ele use uma máscara de filtragem maior, como a PFF2 todo o tempo”, orienta a imunologista.
Além do tempo de tranmissão do coronavírus variar de pessoa para pessoa, há outro problema. Um estudo recente envolvendo 83 pacientes feito do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas (NIID), do Japão, mostra que uma parte dos pacientes infectados com a variante Ômicron pode transmitir o patógeno por um período superior a sete dias.
Vale lembrar ainda que, de acordo com a orientação do Ministério da Saúde, se o teste der positivo, o paciente deve aguardar até o fim dos dez dias de isolamento. Para quem chegou ao sétimo dia e ainda tiver com sintomas do vírus, a recomendação é manter o isolamento, no mínimo, até o décimo dia e sair apenas quando os sintomas acabarem.