O antigo conselheiro do ex-presidente norte-americano Donald Trump, Steve Bannon, se entregou hoje (15/11/21) às autoridades, depois de ter sido indiciado por se recusar a colaborar na investigação sobre o ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro. Mais tarde, após um acordo com as autoridades, ele foi liberado. Na última sexta-feira (12/11/21), Bannon, de 67 anos, foi indiciado por dois crimes de desacato, após ter se recusado a depor perante o comitê da Câmara dos Representantes que investiga o ataque ao Capitólio.
O primeiro crime diz respeito à recusa em testemunhar e o segundo à recusa em apresentar documentos. Três dias depois, o ex-conselheiro de Trump entregou-se diretamente ao Departamento Federal de Investigação dos EUA (FBI). Bannon manteve a postura desafiadora que sempre tem mantido, afirmando aos jornalistas: “Vamos derrubar o regime Biden. Quero que se mantenham focados. Isso é apenas ‘barulho”. Ele deverá se apresentar em breve ao tribunal federal.
Invasão do Capitólio
O ex-estrategista da Casa Branca é uma das mais de 30 pessoas próximas do ex-presidente Donald Trump, que foram intimadas a testemunhar sobre os eventos de 6 de janeiro pelo comitê das Câmara dos Representantes. Nesse dia, à mesma hora em que o Colégio Eleitoral votava para atribuir oficialmente a vitória das presidenciais norte-americanas ao democrata Joe Biden, apoiadores de Trump invadiram o edifício do Capitólio.
O incidente, ocorrido depois de o próprio Trump ter incentivado os seus apoiadores a se manifestarem, resultou em cinco mortos e dezenas de detidos. Levou ainda o Partido Democrata a avançar com um novo processo de destituição contra Donald Trump, que acabou por ser absolvido.
Desde então, o comitê do Congresso investiga o ataque. Em meados de outubro, o comitê aprovou, por unanimidade, a acusação contra Steve Bannon, por considerar “chocante” que ele tenha se recusado a colaborar nas intimações que procuravam documentos e testemunhas dos fatos de 6 de janeiro.
O mesmo poderá ocorrer em breve com Mark Meadows, ex-chefe de gabinete de Donald Trump, que também não quis prestar declarações à Câmara dos Representantes. Os investigadores do incidente de 6 de janeiro esperam que, com o indiciamento de Bannon, Meadows e as demais testemunhas mudem de ideias e aceitem depor.
De acordo com o comitê do Congresso, Steve Bannon “tinha conhecimento prévio substancial dos planos para 6 de janeiro” e, “provavelmente, teve papel importante na formulação desses planos”. No dia anterior ao ataque ao Capitólio, ele disse, no seu programa de rádio: “o inferno irá soltar-se amanhã”. Vinte e quatro horas depois, milhares de apoiadores de Trump invadiam o edifício.
Antes de deixar a Casa Branca em janeiro deste ano, Trump concedeu perdão presidencial a Bannon, libertando-o das acusações de ter influenciado os apoiadores do então presidente. Depois disso, o ex-presidente dos EUA pediu aos seus antigos funcionários que todos se recusassem a testemunhar, garantindo que eles têm o direito de guardar informações devido ao “privilégio executivo”, um princípio legal que protege as comunicações de membros da Casa Branca.
Quem é Steve Bannon?
Poucas figuras tem tanta influência e foram tão significativas para mudanças geopolíticas como o publicitário e produtor de cinema Stephen Kevin Bannon, nascido no dia 27 de novembro de 1953, na cidade de Norfolk, na Virgínia, nos EUA. Embora tenha iniciado sua carreira como produtor de filmes em Hollywood, foi na política que ganhou destaque e fama mundial.
Bannon foi chefe de marketing na campanha do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA em 2016 e depois seu estrategista chefe, até ser demitido em 2017. Também foi consultor da campanha que levou ao Brexit, o plebicisto que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, no mesmo ano.
A influência do publicitário se deu pela empresa Cambridge Analytica, empresa que fundou em 2014 e que compilou dados de 50 milhões de usuários do Facebook para traçar perfis de eleitores pelo mundo, manipulando suas opiniões por meio de campanhas de desinformação em massa.
Bannon é um dos autores ou difusores de teorias como o “globalismo”, o ANON ou Estado Profundo, na qual existiria uma conspiração comunista para dominar o mundo e teria desde figuras como Bill Gates e o milionário George Soros até os chineses como mentores.
O ex-assessor de Trump criou um verdadeiro método para influenciar campanhas políticas por meio de desinformação e fake news. Ele define a si mesmo como populista, nacionalista, anti-elites globalistas, mas defensor do livre mercado. Ele também se coloca como anti-imigração hispânica e muçulmana. Anti-políticas de gênero, anti-aborto, anti-LGBT, além de ser firme defensor da “guerra econômica” com a China.
Por que ele ainda é peça-chave na política mundial?
Ao contrário de deputados e chefes de estado, Bannon tem a capacidade de se locomover pelo mundo com muito mais desenvoltura. E mesmo com o próprio FBI no seu encalço, ainda é capaz de articular alianças e campanhas em favor da extrema-direita pelo mundo.
Depois de deixar a Casa Branca, Bannon deslocou-se à Europa para colaborar com vários movimentos políticos europeus de direita e extrema-direita. Estes incluem a Frente Nacional, na França, a Fidesz, na Hungria, a Liga Norte, na Itália, e o VOX, na Espanha. No Brasil participou como estrategista da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. Ainda hoje, ele mantém laços com a família do presidente do Brasil, especialmente com seu filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Bannon declarou à agência de notícias Bloomberg que sua proposta a partir de agora será mais ampla, com a integração de correntes políticas similares de outros continentes além da Europa e as Américas. Em entrevista ao jornal espanhol El País, ele disse que Matteo Salvini e Viktor Orban são os políticos mais importantes da Europa atualmente, e que “Bolsonaro e Salvini são os melhores representantes do movimento nacional-populista”.