Uma chuva torrencial causou destruição e alagamentos em Manaus neste domingo (13/03/2023). O cenário mais grave aconteceu no bairro Jorge Teixeira, no zona Leste da capital, onde um deslizamento de terra em uma área de risco destruiu 11 casas e matou 8 pessoas até aqui. Como era de se esperar, a resposta do poder público local foi absolutamente ridícula e omissa.
Até o fechamento deste editorial, os deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Estado (Aleam) e os vereadores da Câmara Municipal de Manaus (CMM) se limitaram a comunicados de prestação de solidariedade e visitas ao local para registro de imagens – possivelmente para peças publicitárias nas eleições de 2024.
O Ministério Público do Amazonas (MPAM), famoso pela capacidade de organizar campeonatos de futebol, se limitou a dizer, em nota, que está “acompanhando e fiscalizando, na sua esfera de atuação, os desdobramentos dessa calamidade, não só na Comunidade Nova Floresta, mas em outros bairros e zonas de Manaus”. Nada de investigação, procedimento administrativo, ação civil, nada. Ou seja, que as famílias se virem com a Defensoria Pública.
Os familiares não precisam de condolências. Precisam saber quais gestores públicos ao longo de décadas permitiram o crescimento desordenado da cidade, o êxodo do interior por falta de condições básicas de vida, a extrema pobreza que afeta mais da metade da população do Estado e a ocupação sem qualquer planejamento de áreas de risco. Ah, e dos políticos que permitiram essa situação visando fotos. O sangue das vítimas deste domingo está nas mãos dessas pessoas.
Isso infelizmente sabemos que a chance de uma investigação profunda é praticamente zero. Afinal, não estamos falando de linguagem neutra, de desvios de energia ou de asfaltamento de ruas esburacadas, só da vida de pessoas pobres (ironia). É sempre bom lembrar que mesmo depois de passados três anos do primeiro caso de Covid-19 no Amazonas, não há qualquer ação civil ou Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as mortes na pandemia, o colapso de oxigênio ou as condições que mataram mais de 14 mil amazonenses. Não é esperado que uma tragédia em uma das regiões mais pobres da cidade tenha efeito diferente.
Resta para a parte da opinião pública que não abre mão do seu senso crítico a indignação e o clamor tímido por justiça. Para as famílias ficam as perdas dos parentes pelo crime de não terem condições de morar em áreas melhores. Crimes (ironia) estes que custaram a vida de seus entes queridos.