Desde o início da pandemia do novo coronavírus, é quase certo que você fez ou recebeu a seguinte pergunta: quando vou poder não usar mais máscara ao sair de casa? Com o avanço da vacinação e a queda no número de casos e internações, essa pergunta começa a fazer mais sentido. No entanto, especialistas ouvidos pelo Vocativo alertam: ainda vai ser preciso conviver com elas algum tempo.
Na última quarta-feira (06/10/21), o município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, se tornou a primeira cidade do país a desobrigar a população do uso de máscara facial de proteção contra a Covid-19, graças a decreto publicado pelo prefeito Washington Reis (MDB). Em Manaus, o prefeito David Almeida (Avante) já anunciou a inteção de fazer o mesmo até o final deste mês. Mas é o momento de fazer isso?
Vamos poder deixar de usar máscara?
Antes de mais nada, é preciso perguntar se isso será realmente possível. Pandemias costumam promover mudanças nas vidas das pessoas. Pessoas nascidas no início dos anos 1980, por exemplo, não sabem o que é iniciar sua vida sexual sem o uso de preservativo devido ao vírus HIV, causador da AIDS. Dependendo de como evoluir o SARS-COV-2, as máscaras podem ter chegado pra ficar.
“Provavelmente sim [deixaremos de usar]. Com transmissão controlada do vírus. Mas é difícil saber quando, ou se em 100% dos ambientes não será necessário”, explica Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, pesquisadora e coordenadora da Rede Análise Covid-19.
“A utilização de máscaras na situação vacinal que nós nos encontramos – ainda com um número representativo de hospitalizações e mortes pela Covid-19 – ainda é necessária, sobretudo em ambientes fechados”, alerta Margareth Dalcomo, pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “O uso das máscaras ainda nos acompanhará em viagens de avião, embarque em locais fechados, do tipo metrô, ônibus e barcas. E máscaras de boa qualidade. Isso ainda deve perdurar em nossas vidas por um longo tempo”, afirma a médica.
Jesem Orellana, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia vai um pouco além. “Não acredito que um dia deixemos de usar máscaras ou respiradores por completo, pois trata-se de uma medida que veio para ficar, independentemente da sua obrigatoriedade ou não. Em muitos países da Ásia, o uso de máscaras ou respiradores são uma prática que faz parte do cotidiano das pessoas, antes mesmo da pandemia de Covid-19”, opina.
Como será o futuro
Se parece consenso que deixar de usar máscaras neste momento é precipitado, isso pode ser possível em um futuro próximo, caso algumas situações sejam alcançadas. “Acredito que as variáveis que nos dão uma ideia da transmissão (novos casos por dia, média móvel, hospitalizações também são importantes), além de uma ampla vacinação da população”, afirma Mellanie.
“O mais apropriado seria que o Ministério da Saúde suspendesse a obrigatoriedade do uso de máscaras ou respiradores, após a declaração de controle da epidemia no país ou após a Organização Mundial de Saúde declarar o fim da pandemia. No entanto, acredito que a recomendação do seu uso deveria permanecer, ainda que sem obrigatoriedade. Precisamos lembrar que mesmo com o advento das vacinas, elas são efetivamente úteis para prevenir casos graves e óbitos por Covid-19 e não tão boas para evitar infecções, as quais resultam em milhares de casos assintomáticos ou leves/moderados que, em última análise, representam oportunidade para mais e mais mutações do SARS-COV-2”, lembra Jesem Orellana.
Em algumas situações, se forem seguidos alguns cuidados, é possível, porém, haver algumas flexibilizações, como enumera a dra. Margareth Dalcomo. “Usar máscaras em ambientes abertos é dispensável se não for uma aglomeração e a pessoa estiver sozinha e vacinada”, sugere.