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Porque adiar segunda dose de quem “furou fila” da vacina é uma má ideia

Neste sábado (23/01), a juíza da 1ª Vara de Justiça Federal do Amazonas, Jaiza Fraxe, decidiu proibir qualquer pessoa que tenha ‘furado a fila’ de prioridades para a vacinação contra a Covid-19 em Manaus de tomar a segunda dose do imunizante até que chegue a sua vez, de fato e de direto. A proibição foi celebrada por muitas pessoas indignadas (com razão) com o ato de desonestidade de quem burlou a ordem prioridade. Mas, do ponto de vista de saúde pública, a decisão não ajuda a coletividade.

Antes de mais nada, temos de perguntar: o que será feito com as segundas doses, as que seriam dadas aos “furões”? Serão dadas para outras pessoas? Nenhuma das vacinas aprovadas pela Anvisa, tanto a da Oxford/AstraZeneca quando a CoronaVac do Butantan foram projetadas para isso.

O número de vacinas contra a Covid-19 será incerto no Brasil por meses, até que a tecnologia seja incorporada à Fiocruz e ao Butantan e a produção local possa ser sustentável. Enquanto isso, cada dose é fundamental para diminuir risco de casos graves, óbitos e transmissão do vírus.

Cada pessoa que não receber a sua segunda dose, por mais injusto que seja o processo pelo qual elas tenham recebido, como por exemplo ter furado a fila, seguirá desprotegida. Ou seja, continuará sendo um transmissor em potencial do vírus ou alguém suscetível a desenvolver quadro grave da Covid-19 e assim pressionar o sistema de saúde que neste momento está colapsado.

Essas pessoas que furaram a fila merecem punição? Sem dúvida. Mas para isso existe multa, exoneração, demissão e outras sanções. Ao não imunizá-las, você pune a sociedade e não esses indivíduos. Se essas pessoas não estiverem protegidas porque não receberam a segunda dose, quem estiver ao seu redor poderá ser infectado, adoecer ou não ter um leito disponível porque a rede não suporta a demanda. Também devemos lembrar que cada nova infecção não prevenida é uma oportunidade para o vírus mudar e escapar das vacinas e nossa imunidade.

É sempre importante lembrar: vacina é uma estratégia coletiva. E estas vacinas especificamente (CoronaVac e Oxford) servem para diminuir risco de casos graves e mortes. Elas servem para evitar as cenas que estamos vendo aqui em Manaus. Lembrando que a CoronaVac tem eficácia de 50,4%, ou seja, quanto menos gente vacinada, menor é o efeito de proteção coletiva. Não podemos deixar de usá-las porque estamos indignados com essa situação. É hora de pensar estrategica e pragmaticamente.

Entendo, respeito e admiro o comportamento da Dra. Jaiza Fraxe neste momento de crise e tenho certeza que tomou tal decisão com as melhores intenções, mas insisto: negar a essas pessoas a segunda dose será pior para todos nós. A magistrada precisa rever sua decisão.

Foto: Tiago Corrêa / Secom

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