Contexto Opinião

Pesquisa Genial/Quaest mostra o calcanhar de Aquiles de Lula

Divulgada nesta quarta-feira (19/04/2023), a segunda rodada da pesquisa Genial/Quaest em 2023 mostrou um recuo generalizado nas avaliações positivas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao mesmo tempo, mostra que ações que poderiam impactar positivamente a sua avaliação são desconhecidas pelo grande público, comprovando a tese de que a comunicação continua sendo o Calcanhar de Aquiles da esquerda brasileira.

Em relação a fevereiro, as avaliações positivas caíram 4 pontos percentuais, de 40% para 36%, enquanto a avaliação negativa subiu de 20% para 29%, mesmo percentual dos que consideram o governo regular. O índice de aprovação do comportamento do presidente à frente do Executivo caiu de 65% em fevereiro para 53%. Os dados coincidem com o período das declarações de Lula sobre Sérgio Moro, por exemplo.

A pesquisa quis saber se, na visão do eleitor, Lula está conseguindo cumprir suas promessas e constatou que, embora 53% considerem o presidente bem intencionado, 55% avaliam que ele não está conseguindo cumprir o que prometeu. Para 40% dos eleitores, o presidente não é bem intencionado e 35% acreditam que ele está conseguindo cumprir o que prometeu.

As notícias negativas e o desconhecimento de ações do governo federal também pesaram na avaliação dos entrevistados. Enquanto 44% disseram ter ouvido notícia negativa, 34% disseram o contrário e 22% não souberam ou não responderam. E se você acredita que o problema são as chamadas “fake news”, está errado.

A notícia considerada mais negativa por 16% dos entrevistados foi a taxação das chinesas Shopee e Shein, notícia amplamente divulgada na imprensa. Em segundo lugar vem “Não faz o que promete/é corrupto” (7%) e ameaça de acabar com a Bolsa Família (4%). As respostas que se seguem correspondem a 2% ou menos.

Por outro lado, ações do governo consideradas positivas são conhecidas por menos de 60% dos entrevistados. É o caso do relançamento do programa Mais Médicos, conhecido por 58% dos entrevistados e aprovado por 75% destes, e do aumento do salário mínimo (conhecido por 57% e aprovado por 63% desse grupo). O relançamento do Bolsa Família de R$ 600 é o único destaque positivo, com 82% de conhecimento e 77% de aprovação.

A pesquisa comparou o sentimento dos brasileiros em relação ao início de mandato dos últimos presidentes. Em seu terceiro mandato, Lula tem avaliação positiva de 36% do eleitorado, 4 pontos a mais que Jair Bolsonaro, porém abaixo de seus dois mandatos anteriores (43% no primeiro e 48% no segundo).

A sondagem foi feita entre os dias 13 e 16 de abril, com entrevistas face a face com 2.015 entrevistas com eleitores de idade superior a 16 anos. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Análise

Ao longo de quatro anos, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro teve como grande trunfo a eficiência na comunicação. A todo momento em que uma crise externa surgia (aumento da fome, destruição na Amazônia, piora na pandemia, escândalo de corrupção), seja ela qual fosse, Bolsonaro sacava uma declaração estapafúrdia para tirar o foco da discussão na imprensa.

O barulho na comunicação era tamanho que a opinião publica ficava confusa, exausta e o impacto negativo daquela crise era diminuído. Pode-se questionar à vontade o método do ponto de vista ético, mas que ele cumpria sua função, não resta dúvidas. Bolsonaro sabia que o mais importante de tudo era ELE pautar o debate.

Lula não conseguirá pautar o debate. Até porque além da histórica rejeição contra si nos veículos de comunicação tradicionais do Brasil, a máquina de desinformação da extrema direita segue fortíssima, com as bençãos da conivência das plataformas de redes sociais. Mas também não pode ser pautado. Muito menos ficar anônimo dentro do seu próprio governo.

No primeiro momento, as críticas se concentram sobre o ministro das comunicações, Paulo Pimenta (foto, ao lado de Lula), mas o problema é mais complexo do que isso e envolve o próprio presidente. Uma coisa ele precisa entender: político fora de campanha, quando aparece demais na mídia, é pra apanhar da opinião pública. Se não houver um motivo que exija a opinião dele, o silêncio é o melhor.

A sua presença é mais importante onde ele joga melhor: nos bastidores. É de suma importância que Lula controle e conduza não só a política, mas a comunicação da sua equipe e corpo de ministros. Falta ainda uma identidade ao novo governo. Bolsonaro, ao longo de quatro anos, nunca escondeu que governava para seus apoiadores e danem-se o resto. Lula não pode ser tão radical, mas precisa escolher suas prioridades.

Muito desses problemas de comunicação acontecem porque falta ao governo estabelecer o que de fato será prioridade na sua gestão. Fala-se muito em mercado, manter reformas e outros discursos que agradam liberais na mídia, mas eles não são a maioria do eleitorado. O Novo Ensino Médio é um ótimo exemplo. Ele não tem como ser melhorado, precisa ser abortado e uma nova diretriz elaborada. Se a Fundação Lehman, Luciano Huck e o Itaú vão reclamar? Paciência.

Lula precisa estabelecer políticas claras e terá de admitir, em algum momento, que alguém terá de ceder para que ele possa implementar mudanças sociais profundas. Não adianta querer dourar a pílula. É preciso entender que a ameaça de golpe sempre estará no ar. Os agentes que patrocinaram o 08 de janeiro continuam por aí e tentarão novamente.

Lula precisará estar pronto porque tentarão derrubá-lo. Não é uma questão de se, mas quando. E para sustentar a democracia, o presidente necessita desesperadamente de apoio estrangeiro (coisa que também tem tropeçado, mas isso comentamos outro dia) e aprovação popular. Em um futuro próximo, esses 60% que desconhecem os pontos positivos do seu governo podem fazer falta.

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