O militar da reserva do Exército Ailton Barros e o major Mauro Cid, presos nessa quarta-feira (03/05/2023) pela Polícia Federal na operação sobre cartões de vacina fraudados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teriam discutido detalhes de um golpe de estado. A informação foi divulgada pela jornalista Daniela Lima (CNN) que teve acesso a conversas entre os militares que foram interceptadas em seus celulares, apreendido na Operação Venire.
A trama teria se desenrolado na antessala do gabinete da Presidência da República. Nos áudios, Ailton fala que o golpe precisaria da participação do então comandante do Exército, Freire Gomes, ou de Bolsonaro e que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes deveria ser preso. O roteiro do golpe seria o mesmo descrito na minuta apreendida com o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
Análise
Embora tenham sido consideradas bombásticas, as conversas e a narrativa que está sendo construída deve ser vista com cuidado e atenção. Primeiro que a resposta do bolsonarismo à denúncia de fraude fez com que a defesa de Bolsonaro jogasse toda a responsabilidade pela adulteração do seu cartão de vacina a Cid. Logo, é mais do que óbvio que tentem usar os dois ajudantes como bode expiatório até mesmo da minuta golpista apreendida com Anderson Torres.
Mais do que tirar a responsabilidade de Bolsonaro, é preciso ficar atento a outros agentes do golpismo que tentarão sair ilesos do 08 de janeiro: as Forças Armadas. Essa conversa revela que o golpismo está totalmente enraizado dentro da alta cúpula das forças armadas, não apenas militares da reserva ou concentrada em patentes mais baixas como se supunha antes. Outra notícia que corrobora essa tese é a revelação feita pela jornalista Míriam Leitão, na programação da GloboNews desta quinta-feira (04/05/2023).
Vários elementos nos últimos meses apontam para a articulação militar do golpe. A proteção e apoio logístico aos acampamentos golpistas nas portas dos quartéis, a pressão feita para manter o Gabinete de Segurança Institucional, a coluna vertebral dos atos de 08 de janeiro e os comentários de repórteres de política que os militares não gostaram da prisão de Mauro Cid são um sinal claro: o 08 de janeiro não nasceu na cabeça dos aposentados do Whatsapp.
Um bom caminho para chegar aos número e identidades exatas dos militares que articularam com Bolsonaro uma tentativa de golpe é a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigará os atos de 08 de janeiro deste ano. Resta saber se o grupo terá coragem para enfrentar as notas ameaçadoras que os comandantes emitem quando se sentem ameaçados. Ou se vão se acovardar como os membros da CPI da Pandemia no Senado.
Mas o fato é que não há motivo para imaginar que os militares que apoiavam tão efusivamente Bolsonaro e nunca se colocaram efetivamente contra seu discurso golpista aceitariam pacificamente a derrota do seu candidato nas urnas em 2022. Achar que os conspiradores simplesmente desistiram do seu plano inicial é um erro que pode nos custar a democracia.