Amazônia

Os desafios de fazer jornalismo na Amazônia

Finalista do Prêmio Pulitzer 2023, série “The Amazon, Undone”, publicada pelo Washington Post em 2022, o fotojornalista brasileiro Rafael Vilela conversou com o Vocativo sobre os desafios de fazer jornalismo na Amazônia

A série “The Amazon, Undone” (Amazônia desfeita em português), publicada pelo Washington Post ao longo de 2022, é finalista da categoria Reportagem Explicativa do Prêmio Pulitzer 2023. Conduzida pelo repórter Terrence McCoy, com participação do fotojornalista brasileiro Rafael Vilela, a série conta detalhes sobre o desmatamento da Amazônia e como os poderes público e político estão diretamente ligados a isso.

O prêmio reconhece projetos e pessoas que realizam trabalhos de excelência na área do jornalismo. As reportagens foram produzidas no contexto trágico das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, em junho do ano passado. Em conversa com o Vocativo, Rafael Vilela contou sobre a rotina de tensão e medo durante os trabalhos.

O trabalho também destaca os envolvidos por trás da destruição, as autoridades que permitem que eles operem com impunidade, o papel dos Estados Unidos e as implicações para o planeta, sempre trazendo o olhar dos indígenas para os temas abordados. A série documentou histórias em diversos estados brasileiros como Acre, Amazonas e Pará.

No momento em que os repórteres visitavam São Félix do Xingu, no Pará, ocorriam os crimes que vitimaram Dom Phillips e Bruno Pereira. “Não sofremos coerção física, mas dava pra ver que não éramos bem vindos. Então me senti muito inseguro nesse trabalho, com certeza”, lembrou o jornalista.

O fotojornalista explicou ainda que a partir do momento em que a equipe se identificava como imprensa e explicava o seu trabalho, passava a ser monitorada por toda a parte. O momento mais preocupante aconteceu dentro da Vila Renascer, uma cidade construída do zero dentro da Terra Indígena Apyterewa. E justamente pelo fato de ser um olhar exterior e alguém que não vive na região, ele acredita ser importante a cobertura de veículos de fora da Amazônia.

“É um grande desafio fazer esse trabalho sem colocar ninguém em risco”, afirma o Rafael. “Se eu fosse um jornalista local, eu não teria coragem de contar essas histórias. O desafio é colocar esse privilégio a serviço dessas histórias. Outro desafio é fazer jornalismo local sem que ele se torne uma ameaça para a vida do jornalista”, sugere.

Nesse ponto, o fotojornalista explica que o poder público é fundamental para a proteção de todos que vivem na Amazônia, sejam jornalistas ou não. “O ativismo, por mais bem intencionado que seja, ele não tem estrutura nem escala pra fazer isso”, alerta.

Além do Prêmio Pulitzer, a série foi laureada no George Polk, uma das maiores honras do jornalismo estadunidense, na categoria de reportagem ambiental. No Overseas Press Club, recebeu o prêmio Robert Spiers Benjamin por melhor reportagem em qualquer mídia na América Latina.

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