Opinião

Tudo bem se uma tentativa de golpe de estado “só matar alguns”?

As "forças democráticas" do Brasil estão paralisadas. Tudo bem para elas se a tentativa de golpe de Bolsonaro não tiver êxito e cause "apenas algumas mortes"? E convém lembrar: Golpe de estado pode não ser fácil, o que não significa ser impossível

Jair Bolsonaro continua ameaçando golpe de estado. Se antes as ameaças eram veladas, em frases de duplo sentido, agora não há pudor algum. Agora o presidente diz sem qualquer constrangimento, em alto e bom som, em outras palavras: “ou as eleições são do jeito que EU quero, ou não teremos eleições”. E o pior: há membros nas forças armadas e no congresso favoráveis a isso.

O maior erro é pensar que Bolsonaro só tentará um golpe em 2022, após as eleições. Bolsonaro JÁ ESTÁ tentando fazer isso desde o ano passado. Vale lembrar que uma reportagem da revista Piauí mostrou que ele só não enviou tropas para o Supremo Tribunal Federal porque foi impedido pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.

Se ele teria coragem para tanto ou foi só um rompante, não sabemos. Agora, alguém realmente imagina que essa foi a única vez em que ele considerou tal coisa? O fato é que ele cogita e sonha com isso desde antes de assumir. Esse é justamente o ponto. Conseguir é muito difícil, uma vez que as consequências seriam pesadas, tanto no campo político, quanto social e econômico. Já publiquei material sobre isso aqui.

Precisamos entender uma coisa: se Bolsonaro pudesse dar um golpe de estado, já teria feito isso há anos. O que não significa que não poderá fazê-lo no futuro. Mas, vamos admitir por um momento que realmente não possa ou não consiga levar muito longe, alguém realmente acha que isso não terá consequências? Mortes? Violência?

Temos na cabeça um cenário apocalíptico, ao estilo 1984, The Handmaid’s Tale ou V de Vingança, onde um regime totalitário tira nossas liberdades e nos vigia o tempo todo, mas um cenário de violência urbana, com colaboração do exército e das Polícias Militares não seria menos traumático e sangrento. Mesmo que hipoteticamente não surja desse discurso golpista de Bolsonaro um grande regime fascista e tivermos “apenas” um cenário de tumulto nas eleições de 2022, será aceitável isso? Tudo bem se uma, 15, 50 pessoas perderem suas vidas?

Há maneiras de impedir Bolsonaro. Isso passa por coesão das instituições de estado e das forças políticas do país. Se realmente enxergam nele uma ameaça, passem a tratá-lo como tal. E ocupem as ruas com um único objetivo básico: a democracia. Isso passa por duas coisas: 1) Voto eletrônico secreto, como está; 2) Forças Armadas e Policiais da ativa FORA da política (e se quiser entrar nela, quarentena antes). Todo o resto, neste momento, pode esperar.

Mas, se as ditas “forças democráticas” acreditam que, por si só, o golpe de estado planejado por Bolsonaro não se realizará pela sua incompetência e covardia, causando “algumas” mortes e que isso é aceitável, então já perdemos. Se aqueles que deveriam proteger a democracia não se importam que alguns sofram, então já não temos um país mais.


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