A foto de Bolsonaro neste domingo (19/09/21), comendo pizza nas ruas de Nova York por não poder entrar em um restaurante por não estar vacinado é proposital. Ela foi tirada para ser compartilhada por seus críticos. Essa tática é pensada para atender uma estratégia político-midiática. E tanto oposição quanto imprensa não conseguem resistir à tentação e sempre caem na armadilha.
Imagens como essa, de Bolsonaro comendo pizza de maneira informal, não gera nos seus apoiadores a vergonha de um chefe de estado barrado tendo restrições em plena reunião de Cúpula da Organização das Nacões Unidas (ONU) por deliberadamente não querer se vacinar. Ela gera a impressão de alguém simples, do povo, antissistema que resistem em não se misturar com os ricos chefes de estado do resto do mundo.
Com a criação das redes sociais, políticos de extrema-direita aprenderam a usar o engajamento gerado por textos, imagens e até memes para propagar suas ideias e pontos de vista, inclusive usando o dos seus críticos. Foi com essas ferramentas que Jair Bolsonaro e Donald Trump se elegeram e o Brexit foi aprovado no Reino Unido. Esse método também é usado para direcionar o debate político.
É exatamente por isso que Bolsonaro sempre dá declarações polêmicas, absurdas, às vezes até mesmo totalmente bizarras e ignorantes. Trump fazia o mesmo nos EUA, Salvini faz o mesmo na Itália e outros políticos pelo mundo fazem o mesmo. É uma maneira de pautar a imprensa e o debate político, direcionando para onde ele quer, tirando de onde ele não quer. Não são por acaso ações ou declarações estapafúrdias simultaneamente a denúncias, escândalos ou números desfavoráveis do seu governo.
Há aí também a exploração de uma falha sistêmica na imprensa: a cultura do imediatismo e do chamado “jornalismo declaratório”. Funciona assim: sob a desculpa da necessidade do registro histórico, uma figura pública fala algo, publica-se primeiro, pensa-se depois. Ou nem mesmo se pensa.
O jornalismo serve para fazer registro histórico, é claro, mas não de maneira acéfala. Jogar uma declaração no ar, sem interpretar o seu contexto e principalmente entender qual o papel da própria imprensa nesse contexto é mau jornalismo. Pior: desinforma, deteriora o debate político e a própria demoracia. Se eu, enquanto jornalista, só me preocupo com as visualizações do meu link, sem me importar com as consequências do meu ato, mesmo que isso seja contribuir com a estratégia de propaganda de um governo autoritário, eu sou cúmplice dele.
A oposição, por sua vez, se acredita ser mesmo em uma guerra para defender a democracia, precisa urgentemente aprender a lutar com as armas e estratégias dessa guerra. Até aqui, tanto a maioria da imprensa quanto da oposição, tem jogado no time do inimigo.