Nos últimos dias, os jornalistas e comentaristas que cobrem os bastidores da política nacional afirmam existir um impasse para a votação do relatório final da CPI da Pandemia no Senado sobre a inclusão de autoridades do Amazonas no texto. Independente das razões, o fato é que isso precisa acontecer. É o mínimo que as vítimas da pandemia no estado merecem.
Pra entender, o impasse teria rachado o grupo. De um lado estariam o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL), que seriam contra a inclusão de autoridades do Amazonas no texto definitivo. Do outro, estaria o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que seria a favor e teria ameaçado votar contra caso o governador Wilson Lima (PSC) e o ex-secretário de Saúde Marcellus Campêlo não fossem incluídos.
Acredita-se que o motivo seria o jogo de xadrez local para as eleições de 2022. Eduardo Braga teria interesse em voltar a ser governador, cargo que exerceu até 2010 e teria em Wilson Lima um adversário direto, daí o interesse em incluir seu nome no relatório. Omar, por sua vez, já anunciou concorrer à reeleição no Senado e sempre foi aliado, ainda que de maneira discreta, do atual governador. E poderia ver nele um palanque importante.
O fato é que Manaus viveu uma tragédia com poucos precedentes na história da humanidade. Os números e detalhes da pandemia no Amazonas você está cansado de saber. São 13.764 mortos até aqui, uma das mais altas taxas de mortalidade do país. Nunca, em tão pouco espaço de tempo, uma população sofreu DUAS VEZES em curto espaço de tempo, um massacre por uma doença evitável. E com requintes de crueldade, quando pelo menos 31 dessas pessoas morreram por asfixia mecânica na rede hospitalar da capital.
É claro que há a enorme responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na tragédia, por tudo que foi apurado pela própria CPI. No entanto, vale a reflexão: se Bolsonaro era o presidente do país todo, por que só Manaus sofreu da maneira que sofreu? Não faltaram avisos sobre o perigo de abrir atividades de maneira indiscriminada, sem qualquer forma de monitoramento de casos no segundo semestre de 2020. Especialistas alertaram incansavelmente e foram ignorados. O resultado se viu em janeiro.
E o mais importante: se o relator da CPI afirma que Manaus foi usada como cobaia para experimentos com o “Kit Covid”, com o objetivo de se alcançar a imunidade de rebanho por contágio, o governador tem responsabilidade nisso. Ora, como autoridade máxima do estado, cabe a ele parte da gestão do SUS. Nesse caso, ou ele sabia e foi cúmplice ou não sabia e foi negligente. Então merece estar nesse relatório. Ele e os secretários que estiveram à frente da SES-AM durante a crise. Aliás, não seria nenhum absurdo indiciar os prefeitos que deveriam ter decretado lockdown e fizeram de conta que não tinham esse poder.
Sinceramente, não vale a pena entrar em debates sobre joguinhos políticos locais. Não cabe aqui conjecturar sobre isso. E nem nos interessa. Esperamos sinceramente que não seja o caso. Usar as 13.764 vidas perdidas para a Covid-19 como peças em um jogo mesquinho de interesses seria o equivalente a cuspir em suas sepulturas.