Opinião

Opinião: a Zona Franca de Manaus e os cúmplices da sua destruição

A esta altura do campeonato é preciso ser muito ingênuo ou muito desonesto pra não perceber que o objetivo do presidente Jair Bolsonaro (PL) é destruir a Zona Franca de Manaus. Não há uma terceira opção. Se antes de assumir o mandato havia essa suspeita, seus últimos movimentos dão certeza. Mas é importante deixar claro que ele não está sozinho nessa empreitada. Há autoridades do Amazonas que estão se omitindo em nome de um alinhamento cego e imoral com o presidente.

Depois que Bolsonaro quebrou repeditamente a própria palavra ao publicar e manter decretos de redução de 25% das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o que acaba com a competitividade da Zona Franca de Manaus, esperava-se uma postura minimamente digna e firme das autoridades locais, em especial do seu governador. Não é o que está acontecendo.

Ao invés de acionar a Procuradoria Geral do Estado (PGE), o governador Wilson Lima (União) imitou o próprio Bolsonaro e quebrou a própria palavra, transmitida para toda a opinião pública pela imprensa local. Ah, a imprensa local. Falaremos dela mais tarde. Mesmo depois de ter sido humilhado pelo presidente, indo até Brasília para ouvir uma mentira.

Também não podemos esquecer dos deputados federais Delegado Pablo (União) e Capitão Alberto Neto (PL) que após votarem 100% com as pautas do presidente na Câmara, se uniram ao governador no silêncio diante da ameaça ao Pólo Industrial. Nesta quarta-feira (21/04/2022), toda a bancada amazonense no Congresso assinou um manifesto (abaixo) em defesa do modelo econômico, com exceção dos dois. Até o prefeito David Almeida (Avante), um notório bolsonarista de carteirinha, já entendeu que a única alternativa é a judicialização.

Mas não podemos deixar de citar a nota patética da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) que só faltou elogiar os decretos em nota divulgada para parte da imprensa no último dia 18 de abril. Ficaram loucos? Como podem apoiar uma medida que destrói as suas próprias indústrias? A federação de SÃO PAULO (FIESP) tem motivos para apoiar a redução, a do AMAZONAS não. A menos que seja essa a questão. O Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM) também, cujos dirigentes sabiam ser rápidos pra participar de carreata pedindo fim do isolamento social no auge da primeira onda, também se omite.

Por último, mas não menos importante, aparecem os grandes veículos de imprensa do Amazonas, que mais uma vez se portam de maneira igualmente covarde com a omissão dessas figuras. Isso quando não escondem matérias inconvenientes nas suas páginas ou atenuam as ações do governador em seus textos. De que adianta ter mais de 70 anos de estrada e se portar dessa forma? E também não adianta bater no governador e ignorar a inação de deputados e empresários.

Se não entenderam o que está acontecendo, vou repetir o início desse texto: estão destruindo a Zona Franca de Manaus, como já o fazem com a Amazônia, com o serviço público brasileiro e com a democracia. Mas de nada adianta salvar a floresta e o sistema democrático se estivermos falidos, quebrados e com 80% da população na miséria. Se hoje, com o pólo industrial, já temos metade dela na linha da pobreza e extrema pobreza e a nossa parte da Amazônia queima, o que nos reserva o futuro sem nosso principal modelo econômico?

Eu abri esse texto afirmando que a esta altura do campeonato é preciso ser muito ingênuo ou muito desonesto pra não perceber que a Zona Franca de Manaus está sendo morta por inanição, pela instabilidade jurídica. Mas dá pra saber uma coisa: o comportamento é de suicidas.

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