As principais economias mundiais vão produzir, até 2030, mais do dobro da quantidade de carvão, petróleo e gás dos níveis necessários para manter as metas climáticas estabelecidas no acordo de Paris. A conclusão consta em relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), divulgado esta semana, que concluiu que essa meta não vai ser capaz de limitar o aquecimento global a 1,5°C, o que compromete o futuro do planeta.
O relatório, lançado pela primeira vez em 2019, mede e compara os níveis da produção planejada de carvão, petróleo e gás pelos governos e os níveis de produção global que seriam necessários para alcançar os limites de temperatura do Acordo de Paris. Agora, dois anos depois, o relatório de 2021 encontra esta lacuna de produção praticamente inalterada.
Nas próximas duas décadas, os governos estão projetando coletivamente um aumento na produção global de petróleo e gás, e apenas uma modesta diminuição na produção de carvão. Em geral, seus planos e projeções preveem um aumento na produção de combustíveis fósseis até pelo menos 2040, criando uma lacuna de produção cada vez maior.
“A pesquisa é clara: a produção global de carvão, petróleo e gás deve começar a declinar imediatamente e de forma acentuada para ser consistente com a limitação do aquecimento a longo prazo a 1,5°C”, afirma Ploy Achakulwisut, um dos principais autores do relatório e cientista do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI, da sigla original em inglês). “Entretanto, os governos continuam a planejar e apoiar níveis de produção de combustível fóssil que são muito superiores ao que podemos queimar com segurança”.
No acordo de Paris, as nações comprometerem-se a limitar o aumento de temperatura média a menos de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, tentando limitá-los ainda mais, a 1,5º C. A meta é considerada impossível de ser alcançada pelo que indica o documento agora divulgado pelas Nações Unidas.
O relatório da ONU é divulgado a poucos dias do encontro, em Glasgow, de representantes de quase 200 países para negociações sobre o clima – a COP26. A iniciativa, que tinha como objetivo fortalecer as ações de combate ao aquecimento global no Acordo de Paris de 2015, parece, a cada dia, condenada ao fracasso. Com base no documento da ONU, os 15 países mencionados caminham no sentido contrário, ou seja, de aumento da produção de combustíveis fósseis.
“Os recentes anúncios das maiores economias do mundo para acabar com o financiamento internacional de carvão são um passo necessário para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Mas, como este relatório mostra claramente, ainda há um longo caminho a ser percorrido para um futuro de energias limpas. É urgente que todos os demais financiadores públicos e privados, incluindo bancos e gestores de ativos, transfiram o financiamento de carvão para o de energias renováveis a fim de promover a descarbonização total do setor energético e o acesso à energia renovável para todos”. – António Guterres, Secretário Geral da ONU