Começar 2022 com otimismo e esperança, principalmente em meio às incertezas da covid-19, não é tarefa fácil. Embora muitos desejem imaginar como será “pós-pandemia”, o coronavírus veio pra ficar e ainda temos de lidar com as consequências e as repercussões da doença nos aspectos emocional e comportamental das pessoas, especialmente naquelas que vivenciaram a infecção e o luto.
“A pandemia de covid-19 se mostrou um evento com grande potencial para alterar o curso normal da resposta de luto”, explica Christian Haag Kristensen, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Segundo o especialista, estima-se que, para cada morte por covid-19, cerca de nove pessoas — entre cônjuges, filhos, pais e avós — tendem a ficar enlutadas e, por vezes, em um luto persistente, que dura mais de 12 meses.
Ainda assim, de acordo com Kristensen, é possível iniciar o próximo ano com mais leveza. Para isso, é preciso olhar para as evidências, ou fatos, e se lembrar do conhecimento adquirido nos últimos dois anos. “Creio que o fundamental é mantermos a esperança, e isso não é pouca coisa. Mas temos boas razões para isso. Hoje sabemos mais sobre a COVID-19 do que sabíamos antes. Ainda, há na sociedade uma valorização crescente da ciência, e isso é fundamental em um momento no qual ainda há muita polarização e argumentos ideológicos sobre questões de saúde pública”, completa o especialista, que é pesquisador do tema Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
É possível ter esperança?
Neste momento, somam-se mais de 616 mil mortes no Brasil e mais de 5,3 milhões de mortes no mundo por covid-19. De acordo com o especialista, estamos vivendo algo inaceitável em termos de saúde pública. Então não é possível “dourar a pílula”. Mas nem tudo é negativo.
“Por outro lado, temos hoje uma expressiva cobertura vacinal, uma rede pública de atenção à saúde como em poucos países e sabemos muito mais sobre os mecanismos de transmissão do que sabíamos no início da pandemia. Novos fármacos para o tratamento estão sendo desenvolvidos. Ou seja, entraremos em 2022 mais preparados para enfrentar a pandemia de covid-19 do que estávamos em 2020 ou mesmo neste ano que se encerra”, pondera.
Rotina incomum
Mesmo com a vacinação avançada, ainda enfrentamos novas ameaças (como a variante Ômicron, por exemplo) que assustam até termos certeza do real impacto. Com a antiga normalidade ainda distante, o jeito é se adaptar e manter uma rotina que permita manter a saúde física e mental.
“Não há um jeito “certo” de lidar com o que estamos passando e ainda iremos passar. Sugiro que os sentimentos sejam compartilhados com parentes, amigos ou mesmo profissionais. Ou seja, não se deve isolar das pessoas que lhe são importantes na vida. Procurar manter uma rotina que envolva cuidar de si e dos familiares (incluindo sono, alimentação e atividade física adequados) também é importante”, afirma Kristensen.
Matéria editada da reportagem de Carolina Furquim, da Agência Einstein