Opinião

Nosso problema não é o excesso, mas a falta de polarização

O roteiro estava traçado há anos: o excesso de armas em circulação chegará a militantes bolsonaristas radicalizados pelo presidente e em algum momento isso causará mortes violentas. A previsão se confirmou neste domingo (10/07/2022), em Foz do Iguaçu, no Paraná, com o assassinato de Marcelo Arruda, guarda civil e tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) por um extremista de direita.

O pior é que, mesmo com essa pedra cantada, muitos ainda seguiam (e seguirão) com o discurso desonesto e mentiroso de que o problema do Brasil é a “polarização” e o radicalismo de ideologias políticas. Isso não existe. O que acontece diante dos nossos olhos é a criação de um cenário de ataques de uma milícia fanática armada contra opositores desarmados dos mais diferentes espectros políticos que vai gerar banhos de sangue e tragédias sem precedentes.

Mesmo que a polarização da qual tanto falam de fato existisse, ela não seria necessariamente um problema. Livre mercado e socialismo são duas idéias que ocupam pólos distintos, mas existem governos de esquerda e liberais perfeitamente compatíveis com os princípios democráticos. Da mesma forma como há ditaduras sangrentas dentro desses dois espectros. E há o fascismo, que orbita fora desse campo e tem como objetivo destruir as bases da democracia.

Não se trata de defender o PT ou qualquer outro partido. Isso é circunstancial. Fosse o PSDB ou o PDT quem tivesse um candidato liderando as pesquisas de inteção de voto, o bolsonarismo agiria da mesma forma, porque não é motivado por anti-esquerdismo, é motivado por incapacidade de conviver em sociedade. O bolsonarismo é o fascismo à brasileira.

Por mais grave que seja a crise econômica brasileira, a devastação ambiental e a fome, a raiz de tudo isso está em outro lugar, que é justamente o que pede nossa total atenção neste momento: há um corpo estranho na democracia brasileira. E enquanto ele estiver presente dentro dela, não há debate possível, não há diálogo construtivo ou capacidade de criar alternativas. Antes de mais nada, o bolsonarismo precisa ser neutralizado.

Fingir que há comparação entre o bolsonarismo e qualquer grupo simplesmente porque são numerosos e antagônicos ou porque você não tolera a esquerda, além de mentiroso e desonesto, é o principal motivo pelo qual estamos às portas de um confronto civil de largas proporções. Se todos já tivessem a exata noção do que o bolsonarismo representa, a sociedade civil já teria deixado suas diferenças de lado e tomado atitudes para neutralizar a ação desses bandidos. E hoje Marcelo Arruda estaria vivo e quatro crianças não estariam sem pai.

Você que considera Lula e Bolsonaro iguais, que acha que o PT é tão ruim quanto o Bolsonarismo, tenha plena consciência que este sangue está nas suas mãos também. E de todo sangue que ainda vier pela frente este ano. Você é um dos principais responsáveis por isso. E se você acha que fingir neutralidade ou imparcialidade fechando os olhos para o que é óbvio vai garantir sua segurança, pense novamente.

O fascismo antagoniza com qualquer coisa que não seja ele mesmo. Diante de grupos que pregam a morte, a tortura e o extermínio de opositores, que deseja impor sua cultura, religião e posicionamentos sociais (aborto, por exemplo), a única alternativa é polarizar mesmo. Com tudo que estamos vendo se concretizar na prática, nosso problema não é o excesso de polarização, mas a falta dela. Com o fascismo, ou você polariza na direção oposta ou é destruído por ele.

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