Covid-19

Não há como vacinas criarem variantes do coronavírus, explicam cientistas

Um dos mais recentes boatos espalhados por redes de desinformação sobre a pandemia da Covid-19 é que as vacinas poderiam criar novas variantes do coronavírus pelo processo de pressão seletiva. Pra desfazer esse equívoco, o Vocativo ouviu diversos especialistas, que explicaram de maneira clara e didática de que não há como isso ser possível.

Mensagens esta abaixo estão sendo compartilhadas no Twitter afirmando que a vacinação em massa poderia selecionar variantes do SARS-COV-2, vírus causador da Covid-19 capazes de ser mais transmissíveis ou de escaparem da proteção da vacina. No entanto, tal hipótese não tem plausibilidade dentro da ciência.

“As vacinas anti-Covid-19 não podem gerar nenhuma variante pois nenhuma delas usa vírus vivo, somente usam vírus morto (inativado) [no caso da Coronavac] ou parte dele (RNA mensageiro da proteína spike ou unicamente a proteína Spike) [casos da Pfizer e da AstraZeneca]”, explica Carlos Zárate-Bladés, doutor em imunologia e pesquisador do Laboratório de Imunoregulação, Centro de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Na verdade, o processo é justamente o oposto. Quanto menos pessoas protegidas com as vacinas, maior é o risco. “Variantes surgem da multiplicação dos virus. Quanto mais ele se multiplica, maior a chance de aparecerem mutações”, explica Rachel Stucchi, médica infectologista da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Segundo os especialistas, alguns estão confundindo o coronavírus com bactérias, que podem sofrer essa pressão seletiva por meio do uso de antibióticos. “A imunidade não provoca expressão de genes de resistência como os antibióticos fazem nas bactérias. As mutações são ao acaso. Não são baseadas na imunidade. Elas ocorrem por causa da replicação do vírus. Variantes diversas são geradas porque as mutações ocorrem amplamente quando a transmissão é alta. As variantes que são mais adaptadas, por terem por exemplo maior transmissibilidade acabam predominando”, afirma Letícia Sarturi, mestre em Imunologia, doutora em Biociências e roteirista do podcast @EscutaACiencia.

Segundo Letícia, há necessidade de interromper a transmissão da doença não apenas para salvar a vida das pessoas, mas justamente para diminuir o risco do surgimento de novas variantes. “A falta de imunidade provoca aumento da suscetibilidade de um hospedeiro e consequente esse hospedeiro acaba servindo para o vírus se replicar. Quanto maior a taxa de replicação do vírus, maior as chances de mutações. Com uma imunidade contra o vírus há maior controle sobre a replicação viral e isso tende a diminuir as chances de mutações e geração de variantes”, sugere.

Nem toda mutação é positiva

É preciso ter em mente outra coisa: mutação não significa necessariamente melhoria. Boa parte das mutações que o coronavírus sofre não são úteis para ele. “Pense que a cada replicação o vírus incorre em uma probabilidade de acontecerem erros que para esse tipo de vírus são muito frequentes. Quando esses erros, mutações acabam sendo vantajosos, o vírus permanece, do contrário, ele ‘morre'”, afirma Letícia.

Para que haja mudança tão significativa, o SARS-COV-2 terá de acumular muito mais mutações, o que geralmente requer muito mais tempo. “Muitas variantes podem surgir, mas só as mais adaptadas vão permanecer. Um acúmulo de mutações poderia gerar uma nova linhagem de vírus. E isso poderia ser preocupante do ponto de vista que seria um passo grande na evolução”, opina a cientista.

Risco existe, mas não por causa da vacina

Vale lembrar que, apesar de ser usada de maneira equivocada nesse caso, a chamada pressão seletiva realmente existe, mas não funciona dessa maneira. “O que sim pode gerar variantes é o vírus circular numa população sem vacinar misturada com vacinados, pois isso poderi permitir enfrentar sistemas resientes (vacinados) com não tão resistentes (não vacinados), imprimindo uma pressão que termine gerando variantes potencialmente mais perigosas”, alerta Carlos Zárate-Bladés.

Mas esse não é o caso de diminuir a vacinação. Muito pelo contrário. “Essa é um dos motivos do por quê é importante a adesão da ampla maioria da população à vacinação, pois dessa forma o vírus não consegue se multiplicar grandemente nas pessoas vacinadas e tende a ser controlado rapidamente o que diminui a chance do surgimento de variantes perigosas”, orienta o pesquisador.


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