Em estudo publicado na última segunda-feira (07/03/2022) na revista Nature Climate Change, pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, constataram que a Amazônia está perdendo capacidade de se recuperar da devastação por conta das mudanças climáticas. A notícia chega no mesmo instante que tem início o debate no Congresso que pode liberar a extração de minérios na região, o que seria catastrófico e poderia tornar esse quadro mais grave e irreversível.
Os dados analisados indicam que desde o início dos anos 2000, cerca de 75% da Floresta Amazônica apresentou alguma perda de resiliência; ou seja, vem perdendo sua capacidade de se recuperar mais prontamente de distúrbios associados às atividades humanas e às mudanças climáticas. E essa perda de estabilidade foi detectada sem qualquer mudança substancial na biomassa ou na cobertura arbórea da floresta.
O tamanho da área envolvida que está perdendo essa resiliência observados no estudo também chama atenção, pois mostra que esse processo já está em andamento há quase vinte anos e que a tendência é piorar. Mas a pior parte vem agora: os dados abrangem um período até 2016 e ainda não capturaram os efeitos da significativa retomada do desmatamento durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O estudo destaca com muita veemência que precisamos agir rápida e eficazmente se ainda quisermos salvar a maior floresta tropical do mundo, lar de uma enorme diversidade biológica e cultural. Além disso, a Amazônia é um dos pontos de inflexão do sistema Terra, com repercussões na estabilidade climática e no ciclo global do carbono, explica Mercedes Bustamante, professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília.
Mineração pode piorar tudo
Como se tudo isso já não bastasse, líderes da base e da oposição começaram a debater a votação do projeto do governo que regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas (PL 191/20). O governo quer pressa para aprovar o texto, alegando que a Guerra na Ucrânia vai afetar o abastecimento de fertilizantes para o agronegócio brasileiro, fato contestado por ambientalistas.
No entanto, regulamentar a mineração na Amazônia terá um efeito catastrófico na já delicada perda de resiliência da floresta, além de outros impactos ambientais e sociais. “Especificamente sobre a possiblidade de abertura de Terras Indígenas para a mineração, há preocupações bem fundamentadas de que isso resulte em mais desmatamento e violência contra Povos Indígenas. As TIs tem menores taxas de desmatamento e até o momento tem tido um papel central na conservação da Amazônia”, alerta Mercedes.
Segundo a pesquisadora, a mineração tem impactos diretos e indiretos na região, como a expansão de infraestrutura, ocupação urbana desordenada e desagregação social. “É extremamente questionável porque esse projeto está sendo pautado agora e sobretudo que o debate com sociedade e com a ciência não tenha ocorrido de forma ampla e com a profundidade necessária. Estamos recebendo alertas frequentes por meio de relatórios científicos que a crise climática se agrava e as decisões do governo e do congresso ignoram a gravidade do quadro e a responsabilidade do país”, lamenta.
De acordo com a Constituição Federal, essas atividades só podem ser realizadas em solo indígena com prévia autorização do Congresso Nacional, por meio de decreto legislativo, e mediante consulta às comunidades afetadas, as quais é assegurada participação nos resultados.