Amazonas

Lula devolve condecorações de cientistas do Amazonas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, condecoraram nesta quarta-feira (12/07/2023) com a Ordem Nacional do Mérito Cientifico pesquisadores, professores, autoridades e representantes de entidades que prestaram relevantes contribuições ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional.

Entre os agraciados, estão a médica sanitarista Adele Benzaken e o infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, além do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão. Adele e Lacerda já tinham recebido a condecoração, que foi revogada no governo passado, após críticas dos dois médicos à gestão federal.

Lacerda chefiava um grupo de pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas que passou a sofrer ameaças de morte e ataques virtuais em abril de 2020 por bolsonaristas nas redes sociais. Eles trabalham no estudo CloroCovid-19, que estudava os efeitos da cloroquina em pacientes com a Covid-19, e passaram a ser atacados quando descobriram que o medicamento não tinha qualquer eficácia contra a doença.

Antes da solenidade, Marcus Lacerda observou que nenhuma medalha ou homenagem no Mundo é entregue a um único indivíduo, nem a um único pesquisador. “As honrarias são entregues aos grupos de pesquisa e às instituições. É um prazer imenso receber hoje uma condecoração que vem pelas mãos do atual presidente da República, que reconhece o trabalho de todo o grupo de pesquisa que o Amazonas exerce junto à Fiocruz, que sempre foi o suporte dos piores momentos que todos vivemos nos últimos quatro anos”, afirmou. Além dos pesquisadores amazonenses, a comenda na Área de Ciências da Saúde foi entregue a Maurício Lima Barreto, professor emérito da Universidade Federal da Bahia. Também foram agraciados na área de Ciências Biológicas (Gonçalo Amarante Guimaraes Pereira e Stevens Kastrup Rehen), Ciências Biomédicas (Marcelo Marcos Morales e Renato Sérgio Balão Cordeiro), Ciências da Terra (Maria Tereza Fernandez Piedade) e Ciências Humanos (Maria Stela Grossi Porto, in memoriam)

Na época, em solidariedade aos dois profissionais, 21 cientistas renunciaram às próprias condecorações. O grupo também foi agraciado nesta quarta-feira, durante o evento, realizado no Palácio do Planalto.Ricardo Galvão foi exonerado da presidência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em agosto de 2019, após rebater as declarações de Bolsonaro, que acusou a entidade de divulgar dados sobre o aumento do desmatamento na Amazônia que o então presidente considerou “mentirosos”.

Convidada pelo presidente Lula para falar em nome dos homenageados, Adele Benzaken, bastante emocionada, reafirmou seu compromisso com a Ciência e a pesquisa na Amazônia. Em seu pronunciamento (ver íntegra abaixo), ela assegurou que seguirá acreditando na Ciência e que a reparação feita pelo presidente da República tem um significado muito especial. Acompanhada dos familiares, a pesquisadora amazonense fez um rápido retrospecto de sua trajetória, marcada por “encontros”, como ela mesma destacou, entre eles com a Aids, fazendo referência ao período em que chefiou, por cinco anos, o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), HIV e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Na sua gestão, o MS foi responsável por tornar o teste rápido de sífilis uma política nacional, além de ter possibilitado a incorporação de políticas de prevenção ao HIV, como a da Profilaxia Pré-Exposição (Prep) e a universalização do tratamento da Hepatite C na rede pública.

Marcado pela retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, cuja reformulação e consequente ampliação já havia sido anunciada, no evento de hoje, Lula também assinou o decreto de convocação da 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, prevista para junho de 2024, em Brasília. Além disso, a ministra Luciana Santos assinou a portaria que oficializa a nomeação do ex-ministro Sérgio Rezende como secretário da conferência. Segundo a ministra, os preparativos para a conferência já estão em curso.

Luciana Santos comemorou a recomposição do conselho nacional, com a ampliação do número de representantes da sociedade civil e do governo federal, e disse que a solenidade desta manhã foi um “ato de desagravo à ciência e de reparação histórica aos cientistas, professores, médicos e pesquisadores injustamente perseguidos e ameaçados por um governo anticiência e antivida”.

“Podemos dizer que o tempo do negacionismo, do desprezo pelos instrumentos de participação social e de ameaça à democracia acabou”, afirmou a ministra.Lula destacou que a retomada dos trabalhos do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e a convocação da 5ª Conferência Nacional marcam o início de um novo período.

“Chega de obscurantismo. Basta de negacionismo. Chega de jogar cientistas à fogueira. Basta de testemunhar pesquisadores como Ricardo Galvão perdendo seu cargo por mostrar o que os satélites registravam”, afirmou.O presidente disse que desenvolvimento sustentável e desenvolvimento científico caminham juntos e defendeu mais investimentos em pesquisa científica.

Lula prometeu construir mais universidades federais e destacou a importância da redução das desigualdades sociais. “Não adianta ficarmos olhando o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país] se o resultado não é distribuído equitativamente entre a população. Se você cresce 1% e distribui este 1%, vale mais que crescer 10% e não distribuí-los […] E não há como pensarmos em crescer, em retomarmos a indústria, em produzirmos mais no campo, se não pensarmos em ciência. Não há como pensarmos em reduzir as desigualdades sem pensarmos em ciência.

“Por fim, o presidente lembrou o caso do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina Luiz Carlos Cancellier. Suspeito de desvio de dinheiro público, Cancellier chegou a ser detido pela Polícia Federal em setembro de 2017. Afastado do cargo, Cancellier foi proibido de entrar na universidade em que trabalhava há anos. Poucos dias após a deflagração da Operação Ouvidos Moucos, um desdobramento da Operação Lava Jato, o ex-reitor se suicidou.

Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) arquivou o processo por não ter encontrado qualquer indício de irregularidade cometida durante a gestão de Cancellier.“Neste momento em que estamos reunidos com a inteligência brasileira, com nossos cientistas e pesquisadores, não podemos esquecer do nosso companheiro, o ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier. Sempre que pudermos, temos que lembrar das pessoas vítimas do arbítrio. Para que esta insanidade nunca mais aconteça no nosso país”, disse Lula.

Com informações da Agência Brasil

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