Sete meses após as execuções do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, indígenas e ativistas voltaram a ser ameaçados de morte em Atalaia do Norte, no interior do Amazonas. Lideranças da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) estimam que ao menos onze representantes de povos originários foram alvos de intimidação recentemente.
A escalada da insegurança segue sendo fruto de ações de invasores envolvidos na exploração predatória no território demarcado. No fim da madrugada de 3 de dezembro de 2022, um incêndio suspeito consumiu a casa do ativista Júlio Juscelino de Souza Mesquita, em Atalaia do Norte. O imóvel foi totalmente destruído pelas chamas e elevou a tensão no município, onde fica localizada parte da Terra Indígena do Vale do Javari, no extremo oeste do estado do Amazonas.
O fogo na casa de Juscelino é o episódio mais recente numa sucessão de conflitos registrados no último semestre naquele município. Há duas hipóteses sob investigação para tentar esclarecer as causas do incêndio. A primeira teria relação direta com a participação da vítima na defesa das causas ambientais e dos povos originários.
Já a segunda suposição envolve dependentes químicos, que costumavam invadir o terreno do ativista para consumir drogas. O que em certa medida não está totalmente dissociado da ação dos invasores da TI. Um inquérito aberto pela PF, após as mortes de Dom e Bruno, sugere que o narcotráfico está por trás do financiamento das expedições predatórias no território demarcado. Ministério Público Federal e as polícias Federal e Civil do Amazonas não comentam o caso sob a justificativa de que as investigações tramitam em sigilo.
Segundo a equipe da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que esteve no local, o ativista era amigo pessoal do indigenista e ex-coordenador da Funai, Bruno Pereira, que mantinha uma rede de colaboradores voltada à coleta de informações sobre a atuação dos invasores e para a defesa da TI.
Denunciado pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari, outro atentado aconteceu por volta das 9h30 do dia 09 de novembro, próximo à localidade conhecida como Volta do Bindá, na calha do rio Itacoaí, dentro da TI. Ao menos 30 indígenas da etnia Kanamari, a maioria mulheres e crianças, retornavam em pequenas embarcações de um encontro de lideranças da Univaja, quando avistaram os invasores que estavam em um barco carregado com pirarucus e tracajás.