Foi divulgado nesta segunda-feira (04/04/2022) a terceira parte do relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) e as conclusões a respeito da situação do planeta seguem preocupantes. Os cientistas alertam que mesmo com metas e mecanismos capazes de combater o aquecimento global, o mundo está falhando nas ações contra as mudanças climáticas. E o pior: as emissões globais médias de gases de efeito estufa atingiram os níveis mais altos da história.
A previsão é que as emissões globais de gases de efeito estufa atinjam o pico entre 2020 e 2025 em modelos que limitam o aquecimento a 1,5°C ou 2°C. Se não houver um reforço de políticas, além das que foram sendo implementadas até o final de 2020, as emissões devem aumentar além de 2025, o que causará um aquecimento global médio de 3,2 °C até 2100. Isso seria catastrófico para o planeta.
Em mensagem apresentada no lançamento do informe, o secretário-geraldas Nações Unidas (ONU), António Guterres disse que o relatório é uma longa enumeração de promessas climáticas não cumpridas. O secretário alertou que a humanidade caminha rapidamente para um desastre climático, com principais cidades debaixo d’água, ondas de calor sem precedentes, tempestades aterrorizantes, falta de água generalizada e a extinção de 1 milhão de espécies de plantas e animais.
O caminho para evitar a tragédia
O documento declara que existem soluções práticas que poderiam ser implementadas para garantir o cumprimento do Acordo de Paris (1,5°C até 2030). Atividades relacionadas à mudança do uso da terra podem fornecer reduções e remoções em grande escala, ao mesmo tempo em que beneficiam a biodiversidade, a segurança alimentar, o fornecimento de materiais e outros serviços ecossistêmicos baseados na natureza.
Pra se ter uma ideia, as mudanças no uso da terra responderam por quase metade (46%) das emissões brasileiras em 2020, segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima. Os dados mostram que, se fosse um país, a Amazônia seria o nono maior emissor do mundo, ficando à frente da Alemanha, e o oitavo, à frente do Irã, se tivesse suas emissões somadas às do Cerrado, outro bioma sob forte pressão de desmatamento.
“O relatório de mitigação do IPCC mostra que já temos os caminhos para o combate à crise climática e que eles passam, para além de soluções tecnológicas, por soluções políticas. Ainda, aponta que a descarbonização do sistema de produção e consumo global depende de um conceito fundamental: Justiça Climática. Sem o enfrentamento e correção das desigualdades históricas, tanto entre países quanto entre povos, classes, raças, gêneros, territórios, entre outras, não haverá saída efetiva para essa crise”, declara Marcelo Laterman, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.
“Todos os atores da sociedade – de governos e empresas ao setor financeiro e indivíduos — precisam ouvir o alerta da ciência e adotar medidas rápidas e arrojadas para enfrentar a crise climática. É hora de olhar para cima, reconhecer a ameaça e também as oportunidades de ação para garantirmos um futuro seguro não só para as futuras, mas para a atual geração”, afirma Alexandre Prado, diretor de Economia Verde do WWF-Brasil.
Como funciona o IPCC?
O IPCC é um organismo criado pelas Nações Unidas criado em 1988 e que teve o seu primeiro relatório publicado em 1990. Desde então, ele vem avaliando e sintetizando o avanço do conhecimento científico sobre a mudança do clima, seus impactos e demandas para adaptação e soluções para a estabilidade do sistema climático global.
Os dois primeiros relatórios divulgados examinaram as causas e os impactos das mudanças climáticas. No primeiro, os cientistas trouxeram informações sobre a base física das mudanças climáticas passadas, presentes e futuras, e afirmaram ser inequívoca a influência das emissões humanas sobre o clima do planeta. Já na segunda parte do relatório, divulgada em fevereiro, o IPCC confirmou o que já estamos testemunhando e vivenciando: os eventos extremos climáticos estão aparecendo mais rapidamente e se agravarão mais cedo do que previa a ciência e, inclusive, alguns impactos já são irreversíveis. Portanto, precisamos ser mais rápidos e mais ambiciosos nas ações e soluções também.
Em agosto de 2021, foi publicado a primeira parte do sexto ciclo de avaliação do IPCC que sintetizou as bases físicas da mudança do clima, o estado atual e as projeções de mudanças em médio e longo prazo. Em março de 2022, foi divulgada a segunda parte da avaliação que apresentou as informações atualizadas sobre os impactos que já se fazem sentir em todas as partes do mundo.
Os gases de efeito estufa em todo o mundo são gerados majoritariamente pela queima de combustíveis fósseis para geração de energia. Por isso, o relatório do IPCC aponta a importância de um sistema global alimentado por energias limpas e renováveis. Isso significa que infraestruturas de combustíveis fósseis precisam ser gradualmente eliminadas, assim como os subsídios que mantêm a competitividade econômica dessas fontes de energia.
Com informações da ONU News, Agência Bori, Greenpeace e WWF