Corrigida às 17h30
A vacinação contra a Covid-19 começou nesta terça-feira (19/01) em todo o Amazonas. Mas o que deveria ser motivo de esperança rapidamente se tornou alvo de revolta e preocupação. Acusações de desvios e suspeita fraude na escolha de quem seriam os primeiros vacinados estão tomando conta das redes sociais, tanto por parte do governo do estado quanto da prefeitura de Manaus.
Pra começar, a Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM) questionou a quantidade o governo do estado o motivo dos municípios estarem recebendo menos doses da vacina contra a Covid-19 do que o previsto. O município de Parintins, por exemplo, recebeu 1.069 doses, número que é quase 5 vezes menor do que os 4.974 imunizantes previstos no Plano de Vacinação publicado pela FVS-AM.
A DPE-AM não foi a única. Ao participar, esta manhã, da cerimônia de vacinação dos primeiros profissionais da rede municipal de saúde, o prefeito de Manaus, David Almeida, disse que esperava que a capital amazonense recebesse um maior volume de imunizantes, já que a cidade concentra mais da metade da população e o maior número de hospitais do estado – para se ter ideia, não há Unidades de Terapia Intensiva (UTI) no interior do estado. A capital recebeu 40 mil doses das 256 mil unidades da vacina contra o novo coronavírus.
Mas o próprio David também passou a ser alvo de revolta quando duas funcionárias de Unidades Básicas de Saúde (UBS) que são ligadas à família Nilton Lins (ao contrário do que afirmamos antes, que se tratava dos deputados Átila e Belarmino Lins) postaram vídeos nas redes sociais recebendo a vacina. O problema é que uma delas, Gabrielle Kirk Lins, foi nomeada justamente na véspera do início da vacinação e como gerente de projetos, como mostra o Diário Oficial de Manaus, na edição da terça.
Além delas, o filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas, David Dallas, também postou imagens recebendo o imunizante. David se graduou em medicina em dezembro de 2020. Outra criticada nas redes sociais foi a miss Amazonas e digital influencer, Mariana Castilho, que também postou imagens se vacinando. Embora, nesse caso, não tenha ficado claro se, de fato, se tratava da CoronaVac.
Em nota, a prefeitura confirmou que ambas receberam o imunizante, mas se defendeu: “Sobre o caso das médicas Gabrielle Kirk Lins e Isabbele Kirk Lins, vacinadas neste primeiro dia de imunização, não há nenhuma irregularidade, uma vez que se encontram nomeadas e atuando legitimamente no plantão da unidade de saúde, para a qual foram designadas, em razão da urgência e exceção sanitárias, estabelecidas nos primeiros 15 dias da nova gestão”. No entanto, a nota não menciona David Dallas ou Mariana.
Mas a explicação não convenceu. Diversas clínicas particulares que possuem profissionais atuando diretamente no diagnóstico e tratamento de pacientes com a Covid-19 (muitos inclusive afastados por terem contraído o coronavírus), questionaram publicamente os critérios para o recebimento da vacina.
Também circulou pelas redes sociais que caixas com vacinas teriam sido desviadas para o Ministério Público do Amazonas (MPAM) e o Tribunal de Justiça do estado (TJAM), o que explicaria a diminuição do número de vacinas para os grupos prioritários.
O governo do estado afirmou que recebeu 282 mil doses da vacina contra a Covid-19, enviadas pelo Ministério da Saúde (MS), cerca de 26 mil doses a mais que o previsto inicialmente e que a responsabilidade pela distribuição é exclusiva das prefeituras. No entanto, a administração estadual não comentou as acusações de desvio.
TJAM – Em nota, o Tribunal de Justiça do Amazonas afirmou “que são mentirosas e maledicentes quaisquer postagens que afirmem existir destinação de vacinas contra a covid-19 para esta Corte Estadual de Justiça e seus membros”. O comunicado, assinado pelo presidente, o desembargador Domingos Chaloub diz ainda que “qualquer denúncia acerca de desvio de vacinas, deverá ser devidamente apurada pelos órgãos responsáveis com o máximo rigor”.
MPAM – Em nota, a Procuradoria-Geral de Justiça afirmou “que o Ministério Público do Amazonas não recebeu qualquer quantidade das primeiras doses de vacina contra a Covid-19 que foram enviadas ao Estado. Qualquer informação nesse sentido, divulgada em veículos de imprensa ou redes sociais, não é verdadeira. O Ministério Público informa, ainda, que vai apurar as notícias de que houve desvio de quantidades da referida vacina em detrimento de pessoas pertencentes ao grupo prioritário para receber as primeiras doses”.
Foto: Lucas Silva/Secom