Os impactos ambientais da alimentação do brasileiro cresceram nos últimos 30 anos, com registros de aumentos de 21% na emissão de gases do efeito estufa, 22% na pegada hídrica e 17% na pegada ecológica. Os dados são de estudo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com pesquisadores das universidades britânicas de Manchester e Sheffield, publicado na revista “Lancet Planet Health” nesta quarta-feira (10/11/21).
A análise partiu das informações de cinco edições da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, cobrindo o período de 1987 a 2018. Os inquéritos quantificam os alimentos e bebidas comprados pela população brasileira habitante em áreas metropolitanas. Os cálculos foram feitos com base na classificação NOVA de alimentos, que separa os itens em quatro categorias: alimentos in natura, ingredientes culinários, alimentos processados e, por fim, alimentos ultraprocessados.
Os autores do estudo levaram em conta três indicadores ambientais: a emissão de gases do efeito estufa (como forma de medir o potencial de aquecimento global), a pegada hídrica (estimativa do uso de água para a produção do alimento) e a pegada ecológica (quantidade de área biologicamente produtiva para gerar o alimento).
“Os impactos ambientais relativos à compra de alimentos no Brasil aumentaram em função de uma mudança no padrão alimentar da população”, diz a nutricionista Jacqueline Silva, coautora do estudo. “Ao longo dos anos, as compras de alimentos in natura e ingredientes culinários (como óleos, sal e açúcar) caíram, e as compras de alimentos processados e ultraprocessados aumentaram”, observa.
“A relação entre os sistemas alimentares e as mudanças climáticas é complexa e desafia a própria segurança alimentar”, diz Silva. “Os sistemas alimentares são responsáveis por um terço das emissões globais de gases do efeito estufa, e, ao mesmo tempo, sofrem com os impactos climáticos que eles mesmos ajudam a provocar”.
Impactos de saúde pública
A pesquisa mostra uma faceta dos ultraprocessados ainda pouco observada. Desde a última década, cientistas no Brasil e no mundo vêm mostrando o impacto de alimentos ultraprocessados na saúde humana, associando seu consumo a um maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e até mesmo câncer. Pouco se conhece, no entanto, sobre os efeitos dos ultraprocessados na saúde planetária.
Os produtos ultraprocessados são reconhecidamente prejudiciais à saúde, por conta do conteúdo excessivo de nutrientes associados a doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade e doenças cardiovasculares. Portanto, o aumento no consumo desses produtos reflete diretamente nas condições de saúde da população.
“Durante a pandemia, devemos ficar ainda mais atentos à alimentação, uma vez que alimentos não saudáveis são causadores de doenças crônicas como diabetes, pressão alta e excesso de peso que, por sua vez, aumentam o risco de formas mais graves da covid-19 e também da sua mortalidade”, comenta a nutricionista Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Paula Bortoletto.
Pesquisas da área da saúde divulgadas este ano concluem que o consumo de ultraprocessados aumenta em 26% o risco de obesidade. Além disso, eleva o risco de sobrepeso e de aumento da circunferência abdominal elevada de 23% a 34%, de síndrome metabólica em 79%, de dislipidemia em 102%, de doenças cardiovasculares em 29% a 34% e da mortalidade por todas as causas em 25%.
Com informações das Agências Bori e Brasil