Por Rafael Baptista Palazzi é doutorando em finanças na PUC-Rio
A atual política de preços da Petrobrás prevê reajustes sem regularidade definida e guiados pelas oscilações do mercado internacional de petróleo. O recente aumento no preço dos combustíveis, a demanda organizada dos caminhoneiros e a interferência do presidente no controle da Petrobrás chamaram a atenção mais uma vez para a forma como é feita gestão da política de preços da estatal.
Há diversas maneiras de se proteger dos choques do petróleo no mercado internacional sem necessariamente utilizar mecanismos de controle de preço. Estratégias de controle de preço são a renúncia fiscal, decisões da Petrobrás ou fundo de estabilização que tem a função de conter grandes variações de preço. O governo se valeu dessas iniciativas entre 2011 a 2015. Entretanto, a proteção por meio de contratos futuros pode ser uma forma mais efetiva de mitigar os efeitos da volatilidade.
É importante destacar que há dois componentes que influenciam na formação do preço do combustível: a variação cambial do dólar norte americano e a variação do preço internacional do petróleo. Existe algum mecanismo para atenuar o efeito da volatilidade desses componentes que não seja através de decisões arbitrárias do governo? A resposta é sim, mas não é tão simples.
A saída ideal para evitar exposição as oscilações dos preços internacionais seria por meio de contratos futuros negociados nos principais mercados financeiros, como a bolsa de Chicago e Nova Iorque. Essa é uma estratégia bastante usual em setores expostos a variação de preço de mercado, por exemplo, empresas com passivo em dólar ou exportadoras de commodities. A pergunta que precisa ser feita é como a Petrobrás se protege dessas oscilações? Como é feita a gestão de risco de mercado na estatal?
A Petrobrás pode comprar ou vender uma quantidade futura de um produto a um preço pré-determinado. É uma operação que se assemelha à contratação de um seguro e que permite se proteger da volatilidade do mercado. No caso do petróleo, há diversos tipo de contratos possíveis, por exemplo, óleo cru (WTI) e heating oil (ambos comercializados na bolsa de Nova York), e a gasolina cotada no mercado de Chicago (RBOB) (comercializado na bolsa de Chicago).
Um estudo conduzido pela nossa equipe na PUC-Rio analisou esses contratos para entender quais protegeriam melhor o preço da gasolina e do etanol. Com base em dados semanais dos preços da gasolina A (pura) e etanol hidratado, entre 2015 a 2020, nossos achados sugerem que a melhor estratégia seria usar contratos tipo RBOB para gasolina e heating oil para o etanol. Essa proteção reduziria o efeito da volatilidade dos preços internacionais no mercado brasileiro. Para manter a atual política de preços da Petrobrás sem que a volatilidade do mercado internacional interfira no preço das bombas de combustível de forma, por vezes, acentuada é necessária uma efetiva política de gestão de risco de mercado.
Fonte: Agência Bori. Foto: EBC