A 12ª rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (06/07/2022) mostra um avanço do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Alguns resultados do levantamento chamaram atenção e fizeram analistas políticos se preocuparem com um possível crescimento das intenções de voto do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os números, no entanto, precisam ser interpretados.
Os números
Na média dos três cenários pesquisados, Lula tem 47% das intenções de votos, 1 ponto percentual a mais do que em maio. O presidente Bolsonaro vem em segundo lugar. Ciro Gomes (PDT) tem 7%; André Janones (Avante), 2%; Simone Tebet (MDB), 1%; e Pablo Marçal (PROS), 1%. Os demais candidatos (Vera Lúcia, Eymael, Sofia Manzano, Felipe d’Ávila, Luciano Bivar e general Santos Cruz) não pontuaram.
Com esse resultado, Lula seria eleito presidente no primeiro turno. A vantagem de Lula está relacionada à piora na percepção do eleitor sobre a economia. Para 56%, a economia “influencia muito” a escolha do voto. Outros 44% disseram que a economia é o maior problema do país. Entre os temas econômicos, pela primeira vez, a inflação foi o item mais citado, com 23%.
Seis de cada dez eleitores acham que a economia piorou nos últimos seis meses e 57% reclamaram de dificuldades para pagar as contas. Perguntados sobre quem é o maior responsável pela alta dos preços dos combustíveis, 28% dos eleitores responderam Bolsonaro e 16%, a Petrobras. Em um mês, a reprovação ao governo Bolsonaro subiu de 46% para 47% e é majoritária em todas as faixas de renda, gênero e idade.
“Dois dados são sintomáticos para explicar o sentimento do eleitor neste momento: 54% disseram que o governo Bolsonaro está pior do que esperavam e só 18% consideram que está melhor. Perguntamos ainda em que governo o eleitor acha que as pessoas conseguiam comprar mais com o seu salário e 62% responderam que foi em administrações Lula. Ou seja, do lado de Bolsonaro, há a percepção de desapontamento. Do lado de Lula, uma boa lembrança. Essa diferença explica o resultado”, diz Felipe Nunes, diretor da Quaest. No ranking de governos com maior poder de compra, depois de Lula com 62%, os eleitores citaram Bolsonaro com 10%, FHC com 5% e Dilma com 4%.
Nas indicações de primeiro turno, Lula vence nas regiões Nordeste (com 69%) e Sudeste (44%), as mais populosas. Há um empate técnico entre o candidato do PT e o do PL no Sul (38% x34% a favor de Lula) e no Norte (43% x 41% a favor de Bolsonaro). No Centro-Oeste, os números indicam 47% x 23% a favor de Bolsonaro. Seis em cada 10 eleitores disseram que conhecem e não pretendem votar em Bolsonaro, 52% não votariam em Ciro Gomes e 40% rejeitam Lula.
Lula tem suas maiores vantagens entre os eleitores que fizeram até o ensino fundamental, com 61%; e entre aqueles que recebem até dois salários mínimos (58%). Bolsonaro tem seus melhores resultados entre os eleitores com ensino superior completo (37% a 36% para Lula, empatado na margem de erro) e entre eleitores evangélicos (com vantagem de 46% a 34%).
O que chamou atenção
A grande controvérsia da pesquisa foi o fato de Lula ter agora 45% das intenções de voto no primeiro turno, 1 ponto percentual a menos do que junho, enquanto justamente Bolsonaro ganhou 1 ponto percentual e chegou a 31%. O que mais chamou a atenção de todos foi que a diferença entre candidatos no Nordeste caiu 16 pontos percentuais, algo inédito, uma vez que a região é um atigo reduto do petista.
Mas há outros pontos a serem observados. Por exemplo: entre os eleitores que não querem Bolsonaro nem Lula, 27% admitem votar no presidente por causa da redução no ICMS, ou seja, caso a PEC 01/2022 (batizada de PEC Kamikaze) for aprovada, a tendência é que os números do atual presidente melhorem mais, mas aparentemente não o bastante para tirar muita diferença do quadro atual. Vale lembrar que para 44% dos entrevistados, a economia permanece como o maior problema do país.
Também chamou atenção a melhora dos números de Bolsonaro com o eleitorado feminino na pesquisa, em detrimento a Lula. Se na última avaliação o petista contava com 50% do apoio das mulheres, agora esse número caiu para 46%, enquanto Bolsonaro passou de 22% para 27%.
O que esses dados significam?
Embora esses dados pareçam uma melhora significativa, é importante lembrar dois contextos nos quais eles estão inseridos. O avanço de Bolsonaro no Nordeste pode ser mais uma expectativa com o pacote de bondades oferecido pela PEC 01/2022 do que necessariamente avaliação positiva de fato. O maior indício dessa teoria é que a avaliação do presidente não melhorou no geral, oscilando dentro da média da pesquisa.
Sobre as mulheres, é bom lembrar que além da questão econômica, um elemento ideológico pode explicar essa melhora: o aborto. No último mês, o Brasil foi palco para dois escândalos envolvendo esse tema, um com uma menina de 11 anos em Santa Catarina e a atriz Klara Castanho. E o forte apelo evangélico entre as mulheres pode ter usado essa pauta para favorecer o presidente, que se posicionou publicamente contra a prática. Agora é observar a evolução destes números.
Método usado
A pesquisa Genial/Quaest ouviu 2.000 pessoas com mais de 16 anos entre os dias 2 e 5 de junho em entrevistas nas casas dos eleitores em 27 estados. Desde julho de 2021, a Genial/Quaest realiza pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais. É a mais longa série de sondagens feita presencialmente no país.