Amazonas

Fumaça que encobre Manaus tem origem criminosa

A Região Metropolitana de Manaus e outras cidades do estado do Amazonas vem sofrendo com a alta poluição do ar desde meados de setembro. Reforçadas pelo fenômeno El Niño, a fumaça é decorrente das queimadas da floresta amazônica. E, com base em dados levantados nessa semana, essas queimadas são propositais.

Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (13/10/2023), a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, explicou que os incêndios são iniciados de forma criminosa, dentro de fazendas particulares e áreas públicas de floresta. Segundo ela, atualmente há duas frentes de queimadas em todo o Amazonas: uma em terreno federal ao Sul do estado, área de influência da BR-319 e na região metropolitana da capital, mais precisamente em Autazes.

“A ação dos brigadistas do Ibama e do corpo de bombeiros precisará incentivar muito fortemente da cooperação da população para que pare de atear fogo, porque o que nós temos hoje é uma situação bastante perigosa. Temos uma estiagem bastante prolongada e muita matéria orgânica ressecada”, afirmou a ministra. “Um dos principais vetores das queimadas é o desmatamento. Não há fogo natural na Amazônia”, alertou Marina.

Ao longo desta semana, foram feitas várias prisões envolvendo incêndios criminosos. Nesta quarta-feira (11/10/2023), por exemplo, a Polícia Federal prendeu em flagrante dois homens por envolvimento em queimada ilegal em região próxima a capital do estado. Os presos assumiram que já praticaram o mesmo crime anteriormente e foram capturados com motosserras, galões de gasolina e fósforos. Os homens foram encaminhados para a Superintendência Regional e, em seguida, para audiência de custódia, onde permanecerão à disposição da Justiça.

A Polícia Federal abriu investigação para verificar as causa das queimadas na Região Metropolitana de Manaus. Equipes policiais estão fazendo o monitoramento da região através de sistemas de geoprocessamento, com o objetivo de averiguar a prática de ilícitos ambientais, principalmente nesse momento em que o Amazonas enfrenta uma estiagem severa.

BR-319

Ainda durante a coletiva, Marina lembrou que a área da BR-319, que nos últimos anos foi considerada a nova fronteira do desmatamento na Amazônia, tem contribuição decisiva para o atual problema de queimadas na região. “Quando você desmata uma área, a primeira forma de fazer a limpeza dessa área é o fogo. E depois no ano seguinte. Então tudo que foi estimulado em quatro anos [governo Bolsonaro] agora está tendo o efeito naquela região.

Autazes

A região de Autazes também foi citada como um dos focos que queimadas que geram fumaça no estado. O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, lembrou que existe um processo de ocupação de Terras Indígenas que está sendo investigado pelo governo federal. Na região, há um impasse quanto ao projeto da Potássio do Brasil, que pretende extrair o minério das terras da Aldeia Mura Soares-Urucurituba.

Qualidade do ar perigosa

O fogo tem tornado o ar da região metropolitana de Manaus extremamente poluído, causando sérios riscos de saúde pública. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a qualidade do ar, no máximo, não ultrapasse 20 microgramas por metro cúbico (µg/m³) e hoje estamos com Manaus com 225 µg/m³, então a situação é bem grave”, afirmou o presidente do Ibama, Ricardo Coutinho.  A Fiocruz recomenda que a população use máscara em Manaus.

Durante a entrevista, Marina Silva lembrou ainda que os índices de desmatamento na Amazônia caíram 64% em relação a 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A ministra afirmou que, caso a situação excepcional deste ano – a convergência de El Niño e onda de calor na região – encontrassem os índices de queimadas e desmatamento do ano passado, a situação hoje seria “apocalíptica”. Em virtude disso, ela sugeriu a decretação de emergência climática permanente.

Perguntada por uma repórter sobre o pedido do defensor público Carlos Almeida Filho sobre uma possível intervenção federal no Amazonas, Marina Silva desconversou e disse que a ideia do governo, no primeiro momento, é trabalhar “em parceria” com o executivo estadual.


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