O governo do Amazonas anunciou nesta sexta-feira (11/03/2022) a realização do 55º Festival Folclórico de Parintins nos dias 24, 25 e 26 de junho deste ano, mantendo a tradição do último fim de semana do mês. O evento retorna após um hiato de dois anos em virtude da pandemia da Covid-19. No mesmo dia, também foi anunciado o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos em todo o estado. Mas afinal, já é o momento de aplicar essas mudanças?
Na opinião de dois especialistas ouvidos pelo Vocativo, mesmo que a situação esteja mais calma no momento, grandes eventos combinados com o relaxamento no uso de máscaras não são uma boa ideia. “O ideal, para a realização de grandes eventos, seria esperar a OMS declarar o fim da pandemia de Covid-19, principalmente em se tratando do Amazonas, tripla e desumanamente castigado pela gestão criminosa da epidemia” afirma Jesem Orellana, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia.
O pesquisador lembra que a Ômicron continua circulando mesmo entre vacinados e não deverá ser a última variante do SARS-COV-2 a aparecer. “Em tempos de Ômicron e sua descendente, a BA.2, está mais do que claro que somente a vacinação não impede todos os contágios e que o inadequado uso de máscaras é apenas um protocolo sem qualquer efeito prático”, afirma Jesem.
“Se formos considerar os números que temos hoje no Brasil, eles não são muito baixos. E não adianta as pessoas estarem vacinadas se elas continuam transmitindo para os grupos de risco. Qualquer pessoa do grupo de risco precisa manter a máscara, independente do local que ela vá”, alerta Melissa Markoski, professora de Biossegurança da UFCSPA e membro da Rede Análise Covid-19.
No caso do Festival Folclórico de Parintins, uma festa com tantas pessoas aglomeradas em uma arena por horas, cantando e gritando, vai necessariamente exigir máscaras e vacinação dos presentes. “Vai depender da quantidade de pessoas que visitam o espaço e quanto tempo elas ficam lá. Se é um local como um estádio de futebol, há muita transmissão de partículas. Se tiver uma pessoa infectada lá, ela vai transmitir o vírus para outras”, afirma a pesquisadora.
Outro problema tanto para a liberação de máscaras, ainda que parcial e do Festival de Parintins é a quantidade de pessoas com esquema vacinal em atraso. “Se as pessoas não estão com esquema vacinal completo, nem se vacinaram ou grupos de risco, elas precisam se cuidar ou vão desenvolver sintomas severos”, relembra Melissa. Ela faz ainda uma recomendação: “Quem for ao evento, vá de máscara PFF2 ou cirúrgica. Eu não recomendo máscaras de pano, mas só em último caso”, diz.
Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) foram aplicadas 6.512.584 doses de vacinas em todo o estado até esta sexta, sendo 3.048.457 de primeira dose, 2.467.270 de segunda dose, 60.154 com dose única e 935.917 de 1ª dose de reforço. O número representa apenas 58% da população do Estado.
Fiocruz se opõe ao fim das máscaras
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirma que o relaxamento de medidas protetivas contra a Covid-19, como o uso de máscaras é prematuro, revela boletim do Observatório Covid-19, divulgado nesta sexta-feira (11/03/2022). Os pesquisadores afirmam que as próximas semanas serão fundamentais para entender a dinâmica de transmissão da doença e que ainda não é possível avaliar o efeito das festas e viagens no período do carnaval.
Os pesquisadores citam, também, um estudo recente que sugere que o uso de máscaras deve ser mantido por duas a dez semanas após a meta de cobertura vacinal ser atingida, entre 70% e 90%. Com o surgimento da variante Ômicron e sua maior capacidade de escape dos anticorpos, o boletim afirma que as máscaras ficaram ainda mais importantes.