Moradias precárias, população na extrema pobreza, 14 mil mortos por Covid-19 e mais da metade da população passando insegurança alimentar ou fome. Nada disso interessa aos vereadores bolsonaristas Marcel Alexandre (Avante) e Raiff Mattos (DC), que dedicaram a manhã desta terça-feira (21/03/2023) a atacar pessoas trans com base em desinformação e preconceito.
Mas o objetivo por trás desse espetáculo deprimente é um pouco mais complexo do que isso: é um método sistemático da extrema direita para manter em evidência candidatos visando as próximas eleições do país em 2024 e 2026. O problema é que ele encontra eco na imprensa do estado, tal qual encontra no resto do país.
Tudo começou quando o vereador e pastor evangélico Marcel Alexandre fez discurso em defesa do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que pode ser cassado por falas transfóbicas ocorridas no dia 08 de maio na Câmara dos Deputados. Com base numa informação falsa de que uma lutadora cis teria morrido ao lutar contra uma trans (fato que não aconteceu), o pastor apresentou projeto sobre pessoas trans nos esportes. Matos, por sua se referiu às pessoas trans como “aberração”.
É óbvio que esse tipo de pauta e discursos são puro diversionismo político. O interesse é usar um tipo de assunto absolutamente irrelevante, com base em mentiras, para expor sua agenda preconceituosa e se manter na pauta do noticiário local, o que infelizmente acaba dando certo, visto que vários veículos deram a notícia sem explicitar que se trata de um crime grave cometido pelos dois parlamentares.
Mas há outro intuito nesse método: fazer conexão com a extrema direita nacional. Nikolas Ferreira foi o deputado federal mais votado do país e está sendo cotado para ser uma das novas expressões da extrema direita nacional, inclusive como possível sucessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A estratégia é claramente criar um discurso nacional unitário.
O movimento conta com alguns elementos importantes: a conivência das autoridades de controle do próprio parlamento, que se manteve em silêncio quando dois de seus membros usavam o microfone para cometer crimes, do Ministério Público do Amazonas (MPAM), que a tudo assiste impassivo e o jornalismo declaratório da nossa imprensa, que serve de amplificador para discursos de ódio.
Já passou da hora da opinião pública amazonense que não é bolsonarista exigir das autoridades de controle, incluindo o MPAM, ação enérgica contra extremistas. Dinheiro público não pode ser usado para espalhar discurso de ódio. E cabe também aos editores de imprensa o mínimo de coragem para adotar uma abordagem mais proativa diante desse tipo de notícia. A responsabilidade pela propagação desse discurso também é nossa.