Amazônia Covid-19

Estratégia de testagem do governo do Amazonas é falha, alertam especialistas

A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) emitiram uma nota técnica alertando que apenas pessoas com sintomas de Covid-19 devem realizar testes para saber se estão com a doença. A proposta foi criticada por epidemiologistas ouvidos pelo Vocativo.com nesta quarta-feira (19/01/22), que alertaram: a estratégia de testagem posta em prática no estado tem poucas chances de dar certo.

De acordo com a nota, os critérios de priorização do uso de testes são: todos os casos que exigem hospitalização devido a sintomas respiratórios; indivíduos com sintomas respiratórios em qualquer nível de assistência; para transferências hospitalares, como triagem/preparo para procedimentos cirúrgicos e pacientes que precisam ser hospitalizados por outros motivos, como como triagem para detecção de Covid-19 e isolamento/segregação no ambiente hospitalar.

O governo afirma seguir recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que teria recomendado que indivíduos assintomáticos não deveriam procurar os centros de testagem, mesmo que tenham tido contato com pessoas que testaram positivo. O secretário de Estado de Saúde, Anoar Samad, por sua vez, afirmou que a medida é para dinamizar a rede de atendimento, já que os centros de testagem e as unidades de saúde registram alta demanda.

No entanto, no site da Organização, uma nota de junho de 2021 afirma que pessoas que tiveram contato com pacientes infectados devem ser testados, mesmo assintomáticos. Em outra notícia também na página oficial da OMS, a entidade deixa claro que a recomendação é apenas uma ferramenta de políticas para os países criarem suas próprias listas nacionais com base em seu contexto e necessidades locais, estando mais voltada a países pobres.

Críticas

Iniciado em 2022 e apenas voltado para pacientes com sintomas, o plano de testagem em massa das autoridades de saúde do Amazonas foi criticado por epidemiolgistas ouvidos pelo Vocativo. Não apenas pela estratégia em si, de concentrar o principal centro em apenas um lugar, o Centro de Convenções Vasco Vasquez, o que tem gerado enormes filas e aglomerações, como o momento em que foi implementado.

“É tarde, mais uma vez. Eles [governo do Amazonas e prefeitura de Manaus] deveriam ter pensado nisso, antes dos shows com dezenas de milhares de pessoas em dezembro e das escancaradas aglomerações de dezembro de 2021. É tarde para tentar resolver”, lamenta Jesem Orellana, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia. “Não se chama o bombeiro para recolher cinzas, mas sim para evitá-las. Por isso, em saúde pública, agir oportunamente é essencial”, afirma.

Para a epidemiologista Isabel Leite, da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais (UFJF), não testar indivíduos assintomáticos atrapalha as ações de saúde pública porque impedem potenciais vetores de transmissão de serem isolados. “A pessoa pode estar assintomática, mas tem a possibilidade de transmitir o vírus e se você não sabe que ele está com o vírus, permite que ele contamine outras pessoas”, alerta a pesquisadora.

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