Duas imagens marcaram esta terça-feira (18/10/21) ao mostrarem duas realidades completamente distintas, ainda que intimamente ligadas. Na primeira delas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da república, apareceu em foto com a família vestindo trajes de sheik árabe durante viagem em Dubai, nos Emirados Árabes. Enquanto isso, em Fortaleza, um grupo de nove pessoas revira a caçamba de um caminhão e latas de lixo em busca de restos de comida.
Gastos em alta
Nas redes sociais, o deputado foi bastante criticado pela ostentação, mas negou ter usado dinheiro público para a foto, que custou aproximadamente R$ 1 milhão. Apesar disso, a comitiva do governo de Jair Bolsonaro em Dubai deve custar pelo menos R$ 3,6 milhões dos cofres públicos. O objetivo do “trabalho-passeio”, de acordo com o secretário da Pesca, Jorge Seif, era promover o turismo brasileiro nos Emirados Árabes Unidos.
Sob a gestão de Jair Bolsonaro, o governo federal atingiu o maior gasto com cartão corporativo desde 2018. Nos primeiros nove meses de 2021, R$ 204,8 milhões foram gastos, valor 19,9% maior que o registrado em todo o ano de 2020. No ano passado, R$ 170,7 milhões foram consumidos pelo governo federal em cartões corporativos. Em 2019, foram R$ 198,2 milhões. O valor registrado até setembro de 2021 só não é maior que o total de 2018: sob o comando de Michel Temer, o governo gastou R$ 244,8 milhões em cartões corporativos.
E a fome também…
Em Fortaleza, a gravação foi feita pelo cinegrafista Andre Queiroz, mostrando um grupo de nove pessoas, em sua maioria mulheres, revirando a caçamba de um caminhão e latas de lixo em busca de restos de comida. A imagem é apenas mais uma de uma realidade cada vez mais desesperadora.
Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) e divulgado em junho, nos últimos meses do ano passado 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais da metade dos domicílios no país enfrentou algum grau de insegurança alimentar.
A sondagem inédita estima que 55,2% dos lares brasileiros, ou o correspondente a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020 e 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave, isto é, passaram fome, nos três meses anteriores ao período de coleta, feita em dezembro de 2020, em 2.180 domicílios. De acordo com os pesquisadores, o número encontrado de 19 milhões de brasileiros que passaram fome na pandemia do novo coronavírus é o dobro do que foi registrado em 2009, com o retorno ao nível observado em 2004.