Amazônia Opinião

Prefeito de Manaus desconhece o que seja decoro e jornalismo

A situação foi no mínimo surreal. A prefeitura de Manaus convocou uma coletiva de imprensa para a manhã desta quinta-feira (27/10/2022) para, segundo ela, explicar a denúncia do Portal Metrópoles, repercutida pelo Vocativo no último domingo (23/10/2022). Mas o que se viu ao final foi mais uma demonstração de descontrole e falta de decoro do prefeito David Almeida (Avante).

Contextualizando

A coluna Na Mira, que integra o portal, publicou uma matéria no domingo sobre um suposto relatório do Ministério Público do Amazonas (MPAM), que teria sido feito após os desdobramentos da Operação Garimpo Urbano, ocorrida em julho de 2021.

A investigação teria interceptado um diálogo entre criminosos da facção criminosa Comando Vermelho apontado envolvimento dos então candidatos à prefeito e vice-prefeito David Almeida e Marcos Rotta com o grupo antes das eleições de 2020. Os candidatos teriam feito um “acordo” com o grupo criminoso, cujos detalhes não foram explicados.

A coletiva que não foi coletiva

Pra começar, a coletiva não foi uma coletiva. Isso porque o prefeito e o vice simplesmente se negaram a responder perguntas dos jornalistas presentes. Quando um repórter do portal Radar Amazônico tentou interpelar David Almeida, o resultado foi o seguinte:

Ou seja, ao invés de desmentir a afirmação, esclarecer que nunca teve qualquer vínculo com facção criminosa ou simplesmente afirmar que só se pronunciaria na justiça, o que seria o esperado de um gestor público com mínimo de equilíbrio emocional, o prefeito simplesmente vociferou contra a imprensa. Estranho, pra dizer o mínimo.

O primeiro ponto a ser levado em conta é que a própria prefeitura deixou claro, em comunicado distribuído para a imprensa, que o documento não é falso, mas se trata de “um dossiê ilegal vazado da Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência (Seai), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (Sispeam) e divulgado em veículos de comunicação nacional”.

Aqui vai uma aulinha básica de jornalismo ao senhor David Almeida: jornalismo não existe para falar bem de autoridades, mas para questioná-las, pra fazer perguntas que incomodam. Se chega a um jornalista um documento que liga o chefe do executivo municipal a um grupo criminoso, nós temos a obrigação de apurar e noticiar.

Ao atacar quem vazou o dossiê (o que dificilmente será descoberto, por razões óbvias) e quem o divulga, ao invés de simplesmente abordar a questão, prefeito e vice passam uma péssima e suspeita mensagem aos cidadãos de Manaus. Ora, partindo do pressuposto que o documento está mentindo, basta simplesmente dizer: não é verdade e vamos provar. Isso se o Ministério Público decidir apresentar denúncia, o que nem sabemos se será o caso.

Independente de qual será o desdobramento do caso, David Almeida e político algum tem o direito de atacar repórteres. Primeiro porque está atacando CONTRIBUINTES, ou seja, quem paga o seu salário, ou seja, SEUS PATRÕES. Segundo que o cargo exige decoro e terceiro: os repórteres estão apenas trabalhando seguindo a pauta que lhes foi determinada e que sequer podem reagir sob pena de perderem seus empregos. Não cabe a eles decidirem o que perguntar ou não. Nesse caso, além de falta de educação e decoro, é um ato de covardia também.

O jornalismo não tem poder de polícia para investigar. Mas tem o DEVER de levantar afirmações, documentos, denúncias e indícios para quem tem esse poder, ou seja, o Ministério Público possa agir e esclarecer os fatos. Ou seja, o principal interessado em responder essas perguntas deveria ser, em tese, o próprio prefeito e o vice. Sendo assim, fica no ar a mais importante das perguntas: se nada disso é verdade, então por que as perguntas incomodam tanto?

No que compete ao Vocativo, fica aqui um aviso ao prefeito ou qualquer outro indivíduo que acredite ter capacidade de intimidar jornalistas com ameaças: não conseguirão.

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