Contexto

Crise entre Ucrânia e Rússia – Parte 02: as possíveis consequências de uma guerra

A crise entre Ucrânica e Rússia segue escalando cada vez mais em tensão. Líderes mundiais passaram esta última semana aconselhando seus cidadãos a deixarem o território ucraniano alertando para uma iminente invasão russa. Vimos na primeira parte desse especial os motivos que levaram a esse cerco, mas quais seriam as consequências de um conflito entre os ex-membros da União Soviética?

Saiam enquanto podem!

O presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, voltou a aconselhar seus cidadãos na Ucrânia a deixarem o pais. Lembrou que um possível conflito entre as forças norte-americanas e russas será “guerra mundial”. Em entrevista ao canal NBC News, o chefe de Estado alertou os norte-americanos que vivem na Ucrânia. “Cidadãos devem sair agora. Estamos a lidar com um dos maiores Exércitos do mundo. É uma situação muito diferente, e as coisas podem enlouquecer rapidamente”, disse Biden.

Outras nações seguiram o mesmo exemplo. O Ministério de Relações Exteriores do Japão publicou nesta sexta-feira (11/02/1981) uma nota em que pede para seus cidadãos deixarem a Ucrânia imediatamente. Há cerca de 150 japoneses no país, segundo o ministério. A Holanda e a Coreia do Sul também fizeram o mesmo pedido aos seus cidadãos.

Questionado sobre cenários que poderiam levá-lo a enviar militares para resgatar norte-americanos em fuga do país, Biden afirmou que “não existem”. “Esta será uma guerra mundial quando os norte-americanos e a Rússia começarem a atirar uns nos outros. Estamos num mundo muito diferente do que já estivemos”, afirmou. A postura defensiva dos países tem uma explicação: um conflito nessa escala poderia abalar a estrutura geopolítica do planeta.

Relações esgarçadas

Se em 2014, o avanço das tropas russas na Península da Criméia teve várias justificativas legais conhecidas na época – intervenção por convite, intervenção humanitária, restauração das fronteiras russas e autodefesa – a situação atual é diferente.

“A diferença é que em 2022 o respeito pela proibição do uso da força e a obrigação de resolver pacificamente os litígios, princípios que estão ligados à própria fundação da ONU, estão esgarçados pelos constantes ataques ao multilateralismo e a tudo que ele representa por movimentos ideológicos em ascensão no mundo. Chegamos a um momento de apoiar os princípios jurídicos autênticos que se consolidaram desde o fim da sanguinária Segunda Guerra Mundial, ou arriscar perdê-los em razão de projetos pessoais de poder”, alerta Douglas de Castro, professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de Lanzhou (China).

Na disputa entre a Rússia e os Estados Unidos, em razão da expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), com a possível admissão da Ucrânia à organização, não faltaram acusações de ambas as partes na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, realizada no dia 31 de janeiro.

O grande desafio é que as declarações de ambas partes são permeadas por narrativas de segurança internacional, o que, na verdade, produz ainda mais insegurança. “Nem a Rússia nem tampouco os Estados Unidos conseguem aferir as reais intenções de um e de outro. É o que os cientistas políticos chamam de dilema de segurança, que na raiz aponta que as ações tomadas por um Estado para aumentar a sua segurança geram incertezas e desconfianças em outros Estados, fazendo com que eles também aumentem a sua segurança. Isso gera uma espiral de insegurança causada pela busca de segurança”, alerta Castro.

Consequências

Ao que tudo indica, essa situação não será resolvida de maneira pacífica. Caso isso aconteça, as consequências podem ser imprevisíveis. “O primeiro fato será o aumento de sanções econômicas contra Moscou. A mais perigosa delas será o desligamento da Rússia do sistema Swift, a rede de transferências financeiras internacionais, o que colocaria o país fora do sistema global de compra e venda de dólares, o que seria complexo”, alerta Igor Lucena, economista e Doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa.

Caso essa medida drástica fosse adotada, ela não passaria incólume em Moscou, o que agravaria ainda mais o problema. “A resposta russa seria a não entrega de matérias primas como gás e petróleo para as nações ocidentais, o que seria péssimo para a União Europeia. Seria pior do que a pandemia”, afirma Lucena.

A essa altura, o Brasil também seria atingido na sua economia. “A maioria dos nossos produtos manufaturados vem da União Europeia. Sem recebê-los, nossas fábricas e indústrias não vão poder produzir na quantidade necessária, o que impactaria ainda mais a inflação, o que afetaria nossa recuperação econômica para 2022”, explica o economista.

Falando no Brasil

Instalado o conflito, qual seria o papel do Brasil no contexto? Essa é uma pergunta difícil de responder. Existe a teoria e existe a prática. O país faz parte do Conselho de Segurança da ONU como membro não-permanente e, seguindo a tradição diplomática brasileira, na reunião realizada em 31 de janeiro evitou condenar a Rússia, apresentando um discurso a favor da redução da escalada do conflito e busca por uma solução pacífica conforme os ditames do Direito Internacional.

O grande problema está na figura que representará o país nesse cenário: o totalmente instável presidente Jair Messias Bolsonaro. “Será necessária a contenção de forças de dentro do governo para evitar um posicionamento automático pró-Rússia, que embora seja um parceiro do BRICS (bloco de cooperação Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), parece estar mais associado à figura do líder russo (algo semelhante que aconteceu com os Estados Unidos recentemente quando governado por Donald Trump)”, afirma Douglas de Castro.

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