Faltando poucas semanas para seu fim, a CPI da Pandemia pode ter encontrado seu nome mais importante até aqui: o do advogado e lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria. Além de ter atuado diretamente na negociação para a compra da vacina indiana Covaxin, Marcoony também é acusado de participar da venda de testes contra a covid-19 ao governo federal e ter relações com integrantes da família do presidente da República, Jair Bolsonaro.
O lobista iria depor nesta quinta-feira (02/09/21) na CPI da Pandemia, mas apresentou um atestado para não comparecer ao depoimento. Na quarta-feira (01/09/21), de acordo com Omar Aziz, o médico que atendeu o advogado entrou em contato para informar ter desconfiado de que o paciente estivesse mentindo. Diante disso, o profissional de saúde iria avaliar com o departamento jurídico do Hospital Sírio-Libanês a possibilidade de cancelar o atestado.
Diante disso, o comando da comissão de inquérito informou que vai pedir a prisão preventiva e a apreensão do passaporte para evitar que ele fuja do Brasil. De acordo com o requerimento, Faria não poderá se deslocar da cidade onde mora sem prévia autorização da CPI e deve indicar à comissão telefone e endereço eletrônico para ser contatado.
O vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que, desde quarta, a Polícia do Senado está à procura da testemunha e já estava determinada a escolta policial para que ela comparecesse ao Senado.
‘Senhor dos lobbies’
Os senadores da CPI apontam Marconny não só como lobista da Precisa Medicamentos, empresa que atuou como intermediária no contrato da vacina indiana Covaxin, mas de outros negócios irregulares no Ministério da Saúde.
— Marconny não é o senhor do lobby da Precisa Medicamentos. Ele é o senhor de todos os lobbies. É dele a arquitetura ideal de como burlar um processo licitatório — afirmou Ranfolfe.
Para o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), Marconny tinha ligação “com todas as vertentes dessa roubalheira toda”. Segundo ele, a CPI cumpriu papel fundamental de investigação de uma quadrilha que tomava conta do Ministério da Saúde há anos, também em outros governos.
— Eles não têm mais o que dizer. Diante do volume de informações que esta comissão tem, entraram na fase do cinismo e estão preferindo sumir, correr, se internar em hospital; mas vamos continuar esclarecendo tudo. Ele era operador da Precisa, mas não só. Desde junho de 2020 que setores da PF e do MP sabem do papel do Marconny e isso foi ocultado. Eles continuaram e, por isso, deu no que deu: nesse morticínio e nessa crise política.
Bolsonaros
Marconny Faria também é apontado como o facilitador da abertura da empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, com Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente. O jornal Folha de São Paulo obteve mensagens de WhatsApp trocadas entre o lobista e Jair Renan após a quebra de sigilo de Marconny Faria a pedido do Ministério Público Federal do Pará e de análise de documentos da Receita Federal.
Segundo o site Metrópoles, mensagens de celular em posse da CPI apontam que a ex-mulher do presidente Bolsonaro, mãe de Jair Renan, entrou em contato com o Palácio do Planalto para influenciar em nomeações de órgãos públicos a pedido do lobista. Em 2020, Marconny pediu ajuda de Ana Cristina Siqueira Valle para sugerir a escolha do defensor público da União (DPU), junto ao então ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, atual membro do Tribunal de Contas da União (TCU).