Covid-19

Covid-19: reforço da vacina para adultos jovens é visto com ressalvas por especialistas

Na última terça-feira (16/11/21), o Ministério da Saúde anunciou a ampliação da dose de reforço da vacina contra a Covid-19 para toda a população adulta com mais de 18 anos do país. Além disso, o intervalo para aplicação foi reduzido de seis para cinco meses após a conclusão do ciclo vacinal. A medida, no entanto, ainda é alvo de questionamentos dentro da comunidade científica brasileira.

Do ponto de vista de saúde, a medida tem sua lógica, mesmo que muitas pessoas ainda não tenham tomado suas duas doses. “Uma atitude não exclui a outra. Quem não completou o esquema deve completar e quem tomou a última dose do esquema há mais de seis meses deve receber reforço. As duas coisas são validas. É esperada uma queda de eficácia da vacina com o tempo, o reforço mantem a proteção por tempo mais prolongado. Isto é uma realidade para um grande número de vacinas”, explica Renato Grinbaum, infectologista e docente de Medicina na Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid).

“A imunidade que os coronavírus oferecem é passageira. As doses de reforço certamente vão ser necessárias nos próximos anos, pelo menos enquanto o vírus estiver circulando”, afirma o virologista Eduardo Flores, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul (UFSM).

Embora dar doses de reforço de vacinas seja algo corriqueiro dentro da medicina, essa medida atual do Ministério da Saúde ainda não convenceu parte da comunidade científica brasileira. Atualmente, o reforço das vacinas contra a Covid-19 tem sido recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) só para idosos e imunossuprimidos, que são pessoas com alguma redução na capacidade do sistema imune. Para elas, há evidências de que a imunidade não é tão robusta quanto em pessoas jovens e saudáveis, por causa ou da própria idade ou pela supressão do sistema imune.

Para outras faixas etárias, no entanto, as informações ainda são escassas. Alguns dados mostram uma queda desses anticorpos por volta de seis meses depois da vacinação, mas ainda não há evidências de que essa queda cause impacto na proteção contra formas graves da doença. E isso gera desconfiança sobre a necessidade dessa mudança.

“Para a população adulta em geral, ainda não temos muitas evidências a respeito da necessidade. Isso porque temos alguns dados mostrando que os níveis de anticorpos circulantes pode ir caindo com o tempo e isso é natural em qualquer sistema imune, contra diversos patógenos. Mas isso não significa que a pessoa não está mais imunizada. As chamadas células de memória (células B e Células T) continuam têm se mostrado presentes tanto em quem teve a Covid-19 quanto em quem foi vacinado, mostrando uma imunidade que persiste mesmo com essa queda de anticorpos”, explica Letícia Sarturi, farmacêutica, mestre em Imunologia e roteirista do podcast @EscutaACiencia.

Estoque de vacina

Parece consenso dentro entre os especialistas que não problema em administrar uma dose de reforço para adultos. O X da questão parece ser o momento em que isso é feito. Principalmente quando muitos países não completam suas campanhas de vacinação e podem gerar novas variantes ainda mais perigosas do SARS-COV-2.

“Se estivéssemos em situação parecida com a de Portugal, Émirados Árabes Unidos ou outros que já passaram os 80% de vacinados com esquema completo na população total, até poderíamos pensar em aplicar as doses de reforço e em doar vacinas para países com fracas coberturas vacinais. As evidências sobre efetividade das doses de reforço não são claras e parecem alterar pouco ou modestamente o que realmente importa, pacientes graves internados e mortes por Covid-19”, alerta Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz Amazônia.

“Para a população adulta jovem, eu acho precipitada essa decisão, até pela falta de evidências científicas de que essa dose de reforço seja realmente necessária pra essa população. Além do fato de não termos parte da população vacinada. Ainda temos de completar os esquemas de adolescentes, temos de vacinar as crianças, isso sem falar em países que não tem doses disponíveis. A pandemia é um problema global. A frase pode parecer clichê, mas ela é inevitável: só estaremos seguros quando todos estivermos seguros”, pondera Letícia Sarturi.

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