Atualizada com informações da Fiocruz no dia 14/11/2022, às 15h
Pesquisadores da Fiocruz encontraram esta semana mais uma variante do SARS-COV-2, vírus causador da Covid-19, até então desconhecida circulando no Amazonas. Batizada de BE.9. Segundo os pesquisadores, a vigilância genômica no Amazonas mostra que está aumentando rapidamente, de cerca de 25% dos genomas sequenciados na primeira quinzena de setembro para aproximadamente 94% na segunda quinzena de outubro.
O pesquisador Tiago Gräf, da Rede Genômica da Fiocruz Amazônia, membro da equipe que mapeou essa nova subvariante, os casos de Covid-19 no Amazonas estavam em ascensão desde metade de outubro e subiram de uma média móvel de cerca de 230 casos por semana para cerca de 1.000. Para investigar o que poderia estar causando esse ressurgimento da Covid-19 no estado, a equipe de Naveca sequenciou mais de 200 genomas do Sars-CoV-2 de setembro e outubro e assim identificou a nova variante.
A BE.9 é uma evolução da sublinhagem BA.5.3.1, ou seja, é uma Ômicron da linhagem BA.5. Em função das mutações encontradas na BA.5.3.1 do Amazonas, foi solicitado, ao comitê responsável pela classificação das linhagens (PANGOLIN, localizado no Reino Unido), que fosse criada uma designação própria para essa sublinhagem, agora chamada oficialmente de BE.9. Segundo o virologista Felipe Naveca, que chefia a Rede Genômica, as duas subvariantes (BQ.1 e BE.9) compartilham algumas das mesmas mutações, mas que ambas não parecem provocar o aumento do número de casos graves, ao menos até o momento.
“O que nos deixou mais intrigados com a nova variante é que ela apresenta as mutações K444T e N460K na Spike, exatamente como a BQ.1.1. A BE.9 ainda tem uma deleção na Spike, na posição Y144”, comenta Gräf. De acordo com o pesquisador “a BQ.1.1 descende da BE.1, que descende também da BA.5.3.1. Então, de forma independente e em lugares diferentes no mundo, a BA.5.3.1 gerou linhagens com as mesmas mutações na Spike. Em evolução chamamos isso de convergência”.
Segundo Gräf, “a BE.9 e a BQ.1.1 têm suas diferenças em outras regiões do genoma, mas na Spike são muito similares. É por isso que é muito importante que monitoremos de perto a BE.9, pois já vimos que ela fez ressurgir a Covid-19 no Amazonas e não sabemos se ela poderá fazer o mesmo no resto do Brasil”. O pesquisador crê que haverá uma competição dessas variantes “primas” nos outros estados. “A BQ.1.1 já foi identificada em São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco e Rio de Janeiro e é possível que já esteja em mais estados. A BE.9 ainda não sabemos, pois a designação de linhagem ocorreu em 12 de novembro e a partir desta data vamos conseguir monitorar melhor”.
No entanto, Gräf, assim como Naveca, se mantém otimista, já que o número de casos de SRAG e de mortes por Covid-19 não parecem estar aumentando significativamente pela BQ.1.1 (conforme dados internacionais) e nem pela BE.9. “No Amazonas, por exemplo, apesar do aumento no número de casos, a onda causada pela BE.9 é menor que a da BA.5 e muito menor que a da BA.1. E O mesmo se observa para as hospitalizações por SRAG. No Amazonas a onda da BE.9 parece já ter atingido seu auge e deve começar a diminuir em breve”, diz Gräf.
De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) nos últimos dois meses, foram sequenciadas 277 amostras, sendo identificados 248 genomas das seguintes subvariantes da ômicron: BA.5.3.1 (89,5%); 22 genomas da BA. 5.2.1. (7,9%); 4 genomas da 5.1.4 (1,4%); 1 genoma da BA.5.1.2 (0,4%) e 1 genoma da BQ.1 (0,4%), 1 genoma da BA.1. (0,4%).