Contexto Cotidiano

COP27 acende o alerta para aquecimento da Terra

Os primeiros dias da COP 27 combinaram momentos de “aquecimento” — com participantes ainda em fase de credenciamento e estandes sendo finalizados — a outros já de grande importância, como o lançamento do relatório provisório sobre o clima global em 2022 da Organização Meteorológica Mundial (OMM). O estudo indica que os últimos oito anos podem ser os mais quentes já registrados.

Em seu discurso na abertura do painel intergovernamental, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, pediu um pacto de solidariedade climática entre os países desenvolvidos e as economias emergentes, com liderança dos Estados Unidos e da China, e a tributação dos lucros inesperados das empresas de combustíveis fósseis. “Coopere ou pereça”, alertou, acrescentando que “o fracasso em lidar com o clima é um pacto de suicídio coletivo”.

Na outra ponta, eventos paralelos foram destaques em pavilhões temáticos espalhados pela conferência. Reunindo pesquisadores, acadêmicos, setor privado e povos originários, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) inaugurou sua participação à frente de dois painéis.

Diretoras de Ciência do instituto destacaram, diante do cenário de alerta máximo, novas ações e incentivos para garantir a segurança alimentar em um futuro que exigirá adaptações, bem como o papel dos povos do Cerrado para a manutenção das vegetações e de um clima global estável e a importância de reconhecer a existência dessas comunidades.

No pavilhão da WWF (World Wide Fund for Nature), a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, apontou que há milhares de comunidades invisíveis no Cerrado, enfrentando conflitos por terra e água decorrentes da expansão do agronegócio. Atualmente, mais de cinco mil famílias de povos e comunidades tradicionais e de pequenos agricultores utilizaram o aplicativo Tô no Mapa para realizar o automapeamento de seus territórios. São grupos ainda não reconhecidos nos dados oficiais brasileiros.

“O primeiro passo é reconhecê-las, identificá-las e incluí-las no mapa”, ressaltou Alencar. “Se conseguirmos organizar o uso da terra e a ocupação do bioma, o Brasil continuará aumentando sua produção de alimentos ao mesmo tempo em que irá proteger os seus sistemas culturais e de água, existentes no coração do país.”.

O Cerrado é um dos biomas mais biodiverso do mundo e já perdeu quase a metade de sua vegetação. Em agosto e setembro deste ano, o desmatamento no bioma mais que dobrou, em comparação com o mesmo período de 2021. De acordo com dados do SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado), foram 144 mil hectares derrubados, uma alta de 135% sobre os 65 mil hectares do ano anterior.

O aumento da atividade ocorreu principalmente em áreas sem informação fundiária, o que chama a atenção de pesquisadores. Essas áreas concentram 45% do total derrubado nos dois meses, contra 12% no ano anterior. Imóveis rurais privados têm 48% de toda a área desmatada no bioma no período, sendo que no ano passado eram 77%.

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