Divulgada nesta segunda-feira (05/07/21), a 149ª Pesquisa de Opinião da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mostra um quadro bastante desfavorável para o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), tanto no presente, quanto em perspectiva para o futuro. E o que ele mostrou não é favorável a Bolsonaro, em diversos aspectos. Por outro lado, o discurso em favor do voto impresso tem eco na sociedade, o que pode favorecer a radicalização já proposta pelo presidente em 2022.
A pesquisa
O levantamento foi realizado em todo o Brasil em parceria com o Instituto MDA, de 1º a 03 de julho de 2021 e mostra a percepção da população sobre vacinação no Brasil; situação do país em relação a emprego, saúde, educação e segurança pública; ensino remoto dos estudantes e, ainda, o nível de influência da imprensa.
O estudo também traz a intenção de voto dos entrevistados para 2022, além da opinião sobre o tipo de urna eleitoral (voto impresso ou eletrônico). Foram realizadas 2.002 entrevistas presenciais, em 137 municípios de 25 Unidades da Federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais com 95% de nível de confiança.
Avaliação ruim
A pesquisa mostrou piora da avaliação positiva (ótimo + bom) do governo federal em relação ao levantamento realizado em fevereiro de 2021, assim como aumento da sua avaliação negativa (ruim + péssimo), que chegou a 48,2%. Em relação à aprovação pessoal do presidente Jair Bolsonaro, também se observa piora na comparação com a última pesquisa, com desaprovação de 62,5%.
Expectativa
Não bastasse a avaliação geral ruim, a expectativa dos entrevistados com relação aos indicadores sociais também é um problema para Bolsonaro. Com relação ao emprego, 41,4% acredita que vai melhorar, enquanto 53,2% acreditam que a renda vai ficar igual e 43,6% confiam em melhoras nos indicadores de saúde. Isso significa que em caso de piora nos números, a tendência é que o humor da população – e consequentemente sua visão do governo Bolsonaro – poderão piorar ainda mais nos próximos meses.
Vale lembrar que embora caminhe, a vacinação ainda está muito longe de garantir algum patamar de imunidade coletiva no país. Promover a retomada do emprego e da economia, além de reduzir os impactos da Covid-19, são as ações de maior desafio para o governo federal. Segundo os organizadores da pesquisa, um crescimento econômico mais robusto dependerá do avanço da vacinação contra a Covid-19. E se isso por ventura não acontecer em virtude da demora na imunização juntamente com novas denúncias de irregularidades na compra de vacinas, a rejeição ao governo pode disparar. O que influencia diretamente em outra questão: as eleições de 2022.
Eleições
Em todos os cenários, Jair Bolsonaro é derrotado na pesquisa de intenções de voto. No voto espontâneo, onde os candidatos não são citados, o ex-presidente Lula aparece com 27,8% das inteções de voto, enquanto Bolsonaro fica atrás com 21,6%, seguido dos ex-ministros Ciro Gomes (1,7%), Sérgio Moro (0,7%), seguido do governador de São Paulo, João Dória (0,7%), Outros (1,5%). 38,9% dos entrevistados estão indecisos em relação ao voto para presidente em 2022.
No voto estimulado, a diferença aumenta mais. Lula aparece com 41,3%, enquanto Bolsonaro fica em segundo com 26,6%. Na sequência aparecem Ciro Gomes (5,9%), Sérgio Moro (5,9%), João Dória (2,1%), Henrique Mandetta (1,8%), branco/nulo (8,6%) e indeciso (7,8%).
Terceira via
Ainda sobre as eleições para presidente da República para o próximo ano, 40,3% entrevistados preferem que Lula ganhe as eleições e volte a ser presidente, enquanto 25,1% preferem que Jair Bolsonaro ganhe as eleições e continue por mais 4 anos. Outros 30,1% preferem que algum candidato que não seja ligado a Jair Bolsonaro, nem a Lula ganhe as eleições para presidente. Ou seja, há margem para o crescimento de um terceiro um candidato, a chamada terceira via. No entanto, até o momento ela não apareceu.
Nessa mesma pesquisa, 45,1% consideram ser mais importante para as eleições para presidente da República no próximo ano Jair Bolsonaro não ser reeleito, enquanto 27,7% consideram mais importante Lula não ser eleito. Outros 21,2% não concordam com nenhuma das opções anteriores.
Segundo turno
Outro detalhe interessante é que Bolsonaro aparece como derrotado em segundo turno para outros candidatos além de Lula. Se a eleição para presidente fosse hoje, 52,6% votariam em Lula e 33,3% disseram que votariam em Jair Bolsonaro, em caso de uma disputa no segundo turno entre os dois candidatos. Para este cenário, 11,5% votariam branco ou nulo.
O ex-ministro Ciro Gomes também aparece vencendo o atual presidente em eventual segundo turno em 2022. Se a eleição para presidente fosse hoje, 43,2% votariam em Ciro Gomes e 33,7% disseram que votariam em Jair Bolsonaro, em caso de uma disputa no segundo turno entre os dois candidatos. Para este cenário, 18,8% votariam branco ou nulo.
Pandemia
A desaprovação do governo Bolsonaro também é alta na gestão da pandemia. Apesar de 39,0% dos entrevistados aprovarem a atuação do governo federal no combate à pandemia, a maioria 57,2% desaprova. Outros 3,8% não sabem ou não responderam. Ainda nesse quesito, para 49,0% o presidente Jair Bolsonaro é o maior responsável pela demora na vacinação contra a Covid-19. O que reforça a tese que, caso a imunização continue lenta, a culpa deverá recair sobre o presidente.
Economia
Mas é na economia que reside a grande armadilha para a gestão do presidente. Para 92,4% dos entrevistados os preços dos produtos estão aumentando muito, enquanto 5,7% consideram que estão aumentando pouco. Em relação ao orçamento familiar, 56,5% disseram que tiveram redução de renda, em comparação com o período antes da pandemia de Covid-19, enquanto 8,0% disseram que tiveram aumento de renda. Ainda nesse quesito, 74,6% afirmam que o auxílio emergencial é muito importante para a população e para a economia brasileira, enquanto 88,2% acreditam que o avanço da vacinação contra a Covid-19 pode contribuir para o maior crescimento econômico do país.
Urna eletrônica
Com relação a sua bandeira de defesa do voto impresso, Bolsonaro também pode ter problemas, uma vez que ela está longe de ser unanimidade. Sobre o grau de confiança nas atuais urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil, os entrevistados afirmaram ter: confiança elevada, 32,9%; confiança moderara, 30,8%; confiança baixa, 15,8%; e sem confiança, 18,7%.
Para os que já votaram em eleições realizadas por meio de voto em papel, 18,6% afirmaram que o grau de confiança era elevado, 31,1%, moderado e 24,8% baixo. 20,3% dos que já votaram com este sistema não confiavam neste tipo de votação.
Por outro lado, 58,0% disseram ser a favor das urnas com impressão do voto, pois elas geram mais confiança nos resultados e 34,9% disseram ser contra as urnas com impressão do voto, pois o sistema atual já funciona bem. Em contrapartida, 55,4% dos entrevistados consideram que os candidatos à Presidência derrotados não aceitarão o resultado final, caso as eleições ocorram por meio de urna eletrônica sem o voto impresso.
Análise
Por tudo que foi posto nessa pesquisa, há motivos para preocupação. A popularidade do presidente nunca foi tão baixa e sua desaprovação nunca foi tão alta. O que poderia melhorar essa quadro seria uma robusta recuperação econômica que fosse refletida em benefícios para a população, como inflação baixa e geração de emprego, o que não aparece no horizonte.
Isso porque a vacinação permanecerá lenta por meses pela falta de acordo de compra de vacinas e não há plano de retomada do crescimento após o controle da pandemia. Ou seja, o país tende a permanecer em crise por todo ano de 2021, o que deve deteriorar ainda mais sua aprovação. Enquanto isso, Lula, o seu principal adversário tem larga vantagem na liderança das intenções de voto. Assim, o quadro que se vislumbra é de um presidente acuado. No entanto, ele tem um trunfo: o voto impresso.
A sua tática de tentar desacreditar o processo eleitoral vem dando resultado e parte significativa da população apoia essa ideia. O problema é que tanto o Tribunal Superior Eleitoral quanto o Congresso estão se mobilizando na direção contrária, o que pode acirrar a radicalização do presidente e de seus apoiadores em 2022.
Foto: Carolina Antunes / PR