Contexto Opinião

Ciro Gomes foi apenas uma amostra grátis do que será a eleição de 2022

A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (15/12/21) a Operação Colosseum. Ela deveria supostamente apurar fraudes e pagamentos de propina no processo de licitação para obras do estádio Castelão, em Fortaleza, entre os anos 2010 e 2013. O verdadeiro motivo, no entanto, parece ser intimidar adversários políticos do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo a PF, foram apurados “indícios de pagamentos de R$ 11 milhões em propinas diretamente em dinheiro ou disfarçadas de doações eleitorais, com emissões de notas fiscais fraudulentas por empresas fantasmas”. Um dos principais alvos foi o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, um dos adversários mais críticos do atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

A operação é cercada de fatos estranhos, a começar pelo tempo. Ciro Gomes, por exemplo, não ocupava nenhum cargo público na época dos fatos investigado, em 2012, além de não ter sido citado pelo na delação de um dos donos da empreiteira envolvida no caso quando ela aconteceu, em 2017.

O juiz substituto Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, que autorizou a Polícia Federal a cumprir mandados de busca e apreensão contra os irmãos Gomes tem um histórico profissional cercado de polêmicas, inclusive uma denúncia de abuso de autoridade contra um funcionário do Detran de Fortaleza. Todos esses fatos levantaram a suspeita de motivação política contra o ex-governador. A situação, no entanto, é mais complexa do que parece.

Possíveis cenários

A existência de uma engrenagem articulada por Bolsonaro com as superintendências da Polícia Federal para atacar adversários em todo país é improvável. Há muitos funcionários de carreira que não aceitariam corromper seus currículos pra agradar um presidente com baixa aprovação e que pode deixar o cargo em menos de um ano. Mas isso não torna o incidente de hoje menos grave.

O jornalista Reinaldo Azevedo levantou a hipótese de se tratar de um incidente isolado. “Bastam um delegado voluntarioso e um juiz idem, e qualquer um vai para a guilhotina”, disse em sua conta no Twitter, relembrando os métodos autoritários usados pela Operação Lava Jato, que mostrou ter motivações políticas no seu final. E faz todo sentido. Mas é aí que mora o grande perigo.

Bolsonaro não precisa ser o articulador dessa engrenagem ou mesmo existir um movimento orgânico de perseguição contra adversários para que bolsonaristas espalhados nas polícias e órgãos do judiciário causem problemas e arbitrariedades. Basta um incendiário para tumultuar as eleições e o caos será inevitável.

A derrota de Bolsonaro em 2022 parece cada vez mais provável. E é certo que, tanto ele quanto seus aliados não aceitarão isso passivamente. Muitos esperam tumultos partindo das polícias militares, mas ela pode vir de um juiz, de um delegado da PF ou mesmo de um procurador. As armas podem não ser de metal, mas a própria lei. Isso sem falar na incógnita que é a cúpula militar, que inclusive essa semana ganhou um cargo no pleito, com a escolha do ex-ministro da Defesa general Fernando Azevedo para assumir a direção-geral do TSE nesta terça-feira (15/12/21).

Efeito coleteral

Os partidos de oposição ao bolsonarismo precisam entender, de uma vez por todas, que as eleições de 2022 são apenas um pretexto para um embate que vai definir se a democracia no Brasil vive ou morre. Apenas ter mais eleitores não é garantia alguma de que isso vai se traduzir em chegar ao Palácio do Planalto em 06 de janeiro de 2023. Ou realmente os petistas é ingênuo e louco o suficiente para acreditar que Bolsonaro vai passar a faixa para Lula sorridente para as câmeras?

Para garantir que o próximo presidente, se ele não for Bolsonaro, realmente assuma, será preciso um nível de legitimidade maior que a vitória nas urnas. Será preciso também a união de candidatos derrotados fora do bolsonarismo, sejam quem for, do campo político que for. Só isso poderá conter ímpetos golpistas que certamente aparecerão após uma eventual derrota.

Quem sabe – e aqui é mais otimismo do que qualquer outra coisa – esse fato de hoje tenha feito todos, principalmente o próprio Ciro Gomes, perceberem o que está realmente em jogo aqui. Bolsonaro é uma ameaça à democracia e como tal precisa ser tratado. A solidariedade de partidos de esquerda e dos ex-presidentes Lula e Dilma, com resposta igualmente cortês de Ciro são um sinal de esperança de que finalmente se darão conta disso.

É preciso entender claramente uma coisa: o risco de um golpe de estado não está afastado. A liderança de um candidato de esquerda e milhões de votos não vão inibir bolsonaristas arruaceiros. E se eles tiverem sucesso, isso colocará todos em perigo, de Ciro Gomes a Lula, passando por Dória, Alckmin, etc. Cada um só estará seguro se todos estiverem seguros. E isso significa necessariamente Bolsonaro fora da presidência.

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